Autonomie, autonomia, autonomy
Como é que as coisas se mostram, então, em relação à liberdade no entendimento transcendental, em relação à espontaneidade (Spontaneität) absoluta, se é que ela não é a liberdade positivamente prática ante a liberdade negativamente prática? Espontaneidade absoluta, isso não é o mesmo que autonomia? Nos dois casos, o que está em questão é o si mesmo, aquilo que é dotado de caráter de si mesmo (Selbsthaftige), o sua sponte, αυτός. Evidentemente, as duas encontram-se em conexão, mas não são idênticas. Consideremos mais agudamente. Espontaneidade absoluta: a faculdade do autoinício de um estado (das Vermögen des Selbstanfangs eines Zustandes): autonomia: dar-a-si-mesmo-leis de uma vontade racional (Sich-selbst-Gesetz-geben eines vernünftigen Willens). Na espontaneidade absoluta (na liberdade transcendental), não se fala de vontade e de lei volitiva, mas do autoiniciar de um estado; na autonomia, em contrapartida, de um ente determinado, a cuja essência pertence querer, πρᾶξις. Eles não são uma e a mesma coisa e, contudo, há algo de mesmo nos dois: eles se copertencem. Como? O determinar-a-si-mesmo (Sichselbstbestimmen) para o agir como autolegislação (Selbstgesetzgebung) é um autoiniciar (Selbstanfangen) de um estado na região particular do agir humano de um ser racional em geral. Autonomia é uma espécie de espontaneidade absoluta, essa espontaneidade demarca a essência universal daquela. Com base nesse caráter essencial enquanto espontaneidade absoluta, a autonomia é possível. Se não houvesse absolutamente nenhuma espontaneidade absoluta, então também não haveria nenhuma autonomia. A autonomia funda-se, segundo a possibilidade, na absoluta espontaneidade, a liberdade prática na liberdade transcendental. De acordo com isso, Kant mesmo diz expressamente na Crítica da razão pura: “É extremamente estranho, que o conceito prático de liberdade se funde nessa ideia transcendental de liberdade, enquanto aquela liberdade (transcendental) se funda nessa liberdade (prática). Esse constitui o fator propriamente dito das dificuldades, que envolveram desde sempre a questão sobre a sua possibilidade”. (Kant, Crítica da razão pura, A 533, B 561.) (Kant, Fundamentação da metafísica dos costumes, p. 74 (IV, 446).) (GA31MAC:41-42)
VIDE: (Autonomie->http://hyperlexikon.hyperlogos.info/modules/lexikon/search.php?option=1&term=Autonomie)