Krell (1992:35) – O que é que significa “viver” (numa) compreensão do ser?

tradução

O que é que significa “viver” (numa) compreensão do ser? Poderemos alguma vez compreender esse “viver”, se o próprio viver engloba (entre parêntesis) a compreensão? Poderá o viver saltar por cima da sua própria sombra?

Quer possamos ou não compreendê-lo, esse viver numa compreensão do ser, assegura-nos Heidegger, é um fato (SZ:5: ein Faktum). Assim, a estrutura formal da questão relativa ao ser produz uma facticidade particular e um certo movimento ou deslocação. Movemo-nos (wir bewegen uns) numa compreensão vaga e mediana do ser, não na medida em que teorizamos e construímos ontologias, mas simplesmente por estarmos vivos. Essa animação ou, melhor, animacidade (a forma passiva de Bewegtheit, “movência”, não deve ser negligenciada) é a principal preocupação de Heidegger, tanto antes como depois de Ser e Tempo, desde o período da sua hermenêutica da facticidade (aproximadamente de 1919 a 1923) até ao da sua biologia teórica (1929-1930) e muito para além disso. Além disso, a nossa animação fáctica no seio de uma compreensão do ser, que é uma compreensão (em) que vivemos, dirige-nos para algo muito parecido com o ser. Nietzsche, numa nota que se tornará importante tanto para Heidegger como para Derrida, escreve o seguinte: ” ‘Ser’ — não temos outra noção dele senão a de ‘viver’ — pois como pode ‘ser’ algo morto? ”

original

[KRELL, David Farrell. Daimon life: Heidegger and life-philosophy. Bloomington: Indiana University Press, 1992]

  1. WM, 582; KSA 12, 153; cf. Heidegger’s Nietzsche, I, 518/3, 40; finally, see Derrida, “Interpreting Signatures (Nietzsche/Heidegger): Two Questions,” in Dialogue and Deconstruction: The Gadamer-Derrida Encounter, eds. Diane P. Michelfelder and Richard Palmer (Albany: State University of New York Press, 1989), pp. 58—71.[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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