(…) o que Heidegger diz anteriormente em sua “Carta”, como resposta à primeira pergunta de Beaufret: “Como podemos, mais uma vez, dar algum sentido à palavra humanismo?” (GA9; W, 147; BW, 195). Ali, Heidegger discute a definição tradicional de ser humano como ζωον λόγον εχον, racionalidade animal, o vivente que possui fala. Esse vivente tem fala, mas não em virtude de sua língua, lábios ou ouvidos, nem mesmo de suas mãos. De fato, o que o λόγος poderia ter a ver com essas partes carnais, as partes (modificadas) dos animais? Em um gesto mais do que meramente reminiscente da enteléquia aristotélica, Heidegger insistirá com frequência que não ouvimos porque temos equipamento acústico, ou seja, ouvidos; em vez disso, diz ele, à maneira de Lamarck, temos ouvidos porque ouvimos. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça!
(KRELL, David F. Daimon Life: Heidegger and Life-Philosophy. Bloomington: Indiana University Press, 1992)