Krell (1991:81-83) – Lichtung

destaque

Heidegger oferece muita informação sobre a palavra Lichtung no ensaio que estou a discutir. Ele fornece-a na conclusão das suas observações sobre Hegel e Husserl e como forma de introduzir a questão da aletheia. Essa introdução pode ser resumida em quatro passos.

1. Tanto para a dialética especulativa como para a fenomenologia transcendental, a matéria da filosofia vem a brilhar, torna-se presente.

2. Esse brilhar ocorre dentro de uma certa luminosidade ou brilho, Helle.

3. O próprio brilho requer um espaço aberto ou livre no qual a luta entre luminosidade e obscuridade pode ocorrer.

4. O nome dessa abertura, a região livre, é die Lichtung.

Heidegger explica agora que a palavra Lichtung tenta traduzir a clairière francesa, sendo a própria palavra modelada morfologicamente nas formas – já não mais atuais no dialeto – Waldung e Feldung. E acrescenta:

A clareira da floresta é vivida em contraste com a floresta densa, chamada Dickung na nossa língua mais antiga. O substantivo Lichtung remonta ao verbo lichten. O adjetivo licht é a mesma palavra que “leve” (ou seja, não pesado). Aliviar algo significa torná-lo leve, livre e aberto; por exemplo, tornar a floresta livre de árvores num determinado local. O espaço livre assim originado é a clareira. O que é leve no sentido de ser livre e aberto não tem nada em comum com o adjetivo “light” que significa “brilhante”, nem linguisticamente nem em termos da matéria. É o que se observa na diferença entre clareira e luz. No entanto, é possível que exista uma relação factual entre os dois. A luz pode entrar na clareira, na sua abertura, e deixar que a claridade brinque com a escuridão. Mas a luz nunca cria primeiro a clareira. Pelo contrário, a luz pressupõe a clareira.

original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

Designed with WordPress