Kisiel (1995:117-121) – Vida Fática [faktische Leben]

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(…) O tema da fenomenologia não é simplesmente a vida fáctica — este é o domínio abrangente dividido por todas as outras ciências — mas a vida como surgindo da origem, no seu “salto primordial” para o fáctico. A vida fáctica é assim perseguida numa direção inteiramente nova. A fenomenologia quer encontrar a origem da vida fáctica. Pelo caminho, terá também de encontrar os motivos que nos levam da vida fáctica para o domínio da origem. Em outras palavras, o que motiva a própria ideia de uma ciência da origem? E o que significa a origem neste contexto? Os vários problemas da fenomenologia proliferam assim em torno deste problema central, o da sua própria ideia de “ciência” do domínio da origem. O curso (WS 1919-20) percorre várias opções disponíveis e propostas pelas ciências e pela filosofia em busca do método e da matéria da ciência primordial, geralmente por contraste. Isto é feito em conjunto com uma descrição contínua dos caracteres básicos da vida fáctica, dos quais o domínio de origem receberá a sua motivação. Neste breve resumo do curso, concentrar-nos-emos neste último tema.

Temos de entrar nas “auto-evidências” da vida: a minha vida, a tua vida, a vida dela. A vida fáctica tem uma direção definida, uma tendência, que nem sempre é consciente. A vida é uma sequência de tendências: reclama-nos, “dirige-se” a nós ou passa ao lado de nós. Latentes ou patentes, essas tendências tendem a estabilizar-se ou a “cristalizar-se” à nossa volta. Vivo sempre numa espécie de meio ou ambiente, um círculo de tarefas e condições de vida, ao qual outros também pertencem, onde estou com outros. A este mundo-ambiente e a este mundo-com também se pode acrescentar um mundo-próprio (Selbstwelt), que me é dado da mesma forma que o mundo-ambiente. O mundo próprio é o que me ocupa. Uma pessoa interessa-se por arte, ciência, etc., sem pensar muito nisso. Outro estabiliza a sua orientação escolhendo uma profissão, que pode mesmo tornar-se uma tendência totalmente dominadora e ditatorial: uma vida puramente científica ou religiosa. Mas, qualquer que seja a escolha ou a não-escolha, a vida vive sempre num mundo, tem sempre uma tendência para um determinado conteúdo, não corre no vazio. O “mundo” não acrescenta nada de novo à vida. Vida fáctica e a vida num mundo andam naturalmente juntas. Uma é para a outra.

original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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