Katherine Withy (2019) – Befindlichkeit e vocação

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Heidegger analisa tanto a disposição (Befindlichkeit) como a compreensão (Verständnis), considerando o modo como nos abrem (i) a nós próprios (auto-revelação), (ii) ao mundo como espaço de inteligibilidade possível (revelação do mundo) e (iii) às entidades, inteligíveis como isso e aquilo que são (descoberta). Em resumo, a sua explicação da compreensão é a seguinte: (i) projetamo-nos ou assumimos uma identidade — por exemplo, empresário, avô ou bebedor de café. Esta identidade (ii) serve como um “para-que” (Worumwillen, cf. hou heneka de Aristóteles) que determina e organiza todas as formas possíveis em que as entidades podem ser (significativas para nós) — como úteis, prejudiciais, irrelevantes, etc., para viver a nossa identidade particular. Com base nestas formas possíveis de ser (significativo), nós (iii) damos sentido a coisas particulares como úteis, prejudiciais, irrelevantes e assim por diante. Assim, por exemplo, se eu assumir a identidade de empresário, abre-se para mim o mundo do empreendedorismo, em termos do qual posso descobrir (entre outras coisas) capital de risco, linhas de crédito e desastres de relações públicas.

Mas, em primeiro lugar, por que razão assumo o projeto de ser empresário? Porque não o de empregado de escritório, ou de pai ou mãe que fica em casa, ou de funileiro de quintal? Obviamente, os meus talentos e aptidões adequam-se a algumas identidades e não a outras — e algumas identidades podem ser excluídas por outras identidades que já assumi. Mas porque é que assumi essas identidades em primeiro lugar? E porque é que escolho esta identidade do conjunto daquelas para as quais sou adequado? Faço-o porque sou chamado a fazê-lo. As nossas identidades são vocações (L. vocare, chamar, convocar) — não necessariamente no sentido em que são as nossas vocações mais profundas e verdadeiras, mas pelo menos no sentido em que “falam” conosco. (Se, por exemplo, a minha profissão ou o meu gênero socialmente atribuído não me falam desta forma, então trata-se apenas de um papel social que habito e não de uma identidade que projeto). O fato de me sentir chamado a uma vocação é necessário para que eu me projete nessa forma de ser eu. Caso contrário, não haveria razão para que a minha projeção se apoderasse de uma identidade em vez de outra.

original

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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