Todas as éticas anteriores — seja na forma de emitir ordens diretas para fazer e não fazer certas coisas, seja na forma de definir princípios para tais ordens, seja na forma de estabelecer o fundamento da obrigação de obedecer a tais princípios — tinham em comum essas premissas tácitas interconectadas — que a condição humana, determinada pela natureza do homem e pela natureza das coisas, foi dada de uma vez por todas; que o bem humano com base nisso era prontamente determinável; e que o alcance da ação humana e, portanto, da responsabilidade, era estreitamente circunscrito. O ônus do meu argumento será mostrar que essas premissas não se sustentam mais e refletir sobre o significado desse fato para nossa condição moral. Mais especificamente, argumentarei que, com certos desenvolvimentos de nossos poderes, a natureza da ação humana mudou e, uma vez que a ética se preocupa com a ação, deveria seguir-se que a natureza alterada da ação humana também exige uma mudança na ética: isso não apenas no sentido de que novos objetos de ação foram adicionados ao material de caso sobre o qual as regras de conduta recebidas devem ser aplicadas, mas no sentido mais radical de que a natureza qualitativamente nova de algumas de nossas ações abriu uma dimensão totalmente nova de relevância ética para a qual não há precedentes nos padrões e cânones da ética tradicional.
[JONAS, H. Philosophical Essays. Chicago: University of Chicago Press, 1980]