O pensamento do inesquecível não é, portanto, o de uma memória que não pode ser ultrapassada, à qual a memória nunca deixaria de aderir e que representaria infinitamente a si mesma. Não é um objeto da memória, o resultado da sua operação ou a marca da sua vigilância, mas aquilo que dá a memória a si própria, o dom que a torna possível. Em {Que se chama pensar?} [GA8], Heidegger reflete sobre o sentido original da palavra alemã [?Gedanc], pensamento, e entende-a como memória, [?Gedächtnis]. Mas esta não se reduz de modo algum à “faculdade de recordar”. A sua essência é “permanecer incessantemente colecionado com… (das unablässige, gesammelte Bleiben bei…), e isto não só com o passado, mas também com o presente, e com o que pode vir”. Mesmo o ato de recordar, como trabalho próprio da memória, “diz respeito tanto ao passado como ao presente e ao futuro”1. Esta compreensão da memória em toda a sua amplitude, segundo a qual há também uma memória do presente e uma memória do futuro, pertence à tradição agostiniana. É a única maneira de garantir que a fidelidade ao inesquecível não seja a repetição de uma memória que esgota o presente e, ao mesmo tempo, se torna cada vez mais vazia.
[CHRÉTIEN, Jean-Louis. L’inoubliable et l’inespéré. Nouvelle éd. augmentée ed. Paris: Desclée de Brouwer, 2014]