(JEVH)
Foi apenas na última obra que ele próprio publicou que Husserl recorreu sistematicamente a esse termo, para qualificar a situação em que se encontram, desde o início dos Tempos Modernos, as “ciências europeias”. No entanto, não há nada de absurdo em considerar que ele poderia tê-lo empregado já antes, em pelo menos três de suas publicações, cuja problemática, de fato, havia sido muito próxima, pois dizia respeito, sem mais delongas, à relação que a intencionalidade mantém imediatamente com suas próprias produções científicas, sem pensar então em levar em consideração o próprio movimento fundador que a conduziu, primitivamente, a produzi-las. Foi preciso esperar, sem dúvida, até a publicação em 1936 dos §§ 1-27 dessa obra (cuja publicação completa só ocorreu em 1954) para que se tornasse possível descobrir a filiação que havia assim conectado virtualmente essas tomadas de posição sucessivas de Husserl diante de atitudes reflexivas que, apoiando-se em tal esquecimento espontâneo, caracterizam-se sobretudo por sua indiferença em relação aos fenômenos, senão mesmo por sua agressividade em relação a qualquer tentativa que buscasse reconvertê-los em um tema de reflexão transcendental. Husserl [21] havia evoluído muito desde que abordara, pela primeira vez, nos Prolegômenos à Lógica Pura, essa problemática indireta da intencionalidade, que só se apreende a si mesma através do prisma deformante de suas próprias objetivações. Mas, entre esses Prolegômenos de 1900 e o artigo publicado em 1911 na revista Logos e que rapidamente se tornou célebre: A Filosofia como Ciência Rigorosa, assim como entre esse artigo e o Posfácio às Minhas Ideias de 1930, e finalmente entre esse Posfácio e a obra de 1936, já se havia estabelecido uma imensa rede de afinidades subterrâneas que hoje é possível revelar plenamente, desde que, no entanto, nos guardemos de acreditar, de maneira demasiado simples, como muitas vezes se fez até agora, que ela teria sido orientada apenas em um único sentido. Pois essa dificuldade afeta, na realidade, tanto as ciências positivas quanto essa própria fenomenologia transcendental, que, no entanto, supõe-se dever, por sua intervenção, pôr fim à sua situação crítica.