(JEVH)
Não é tanto o próprio termo, comum na filosofia desde que foi usado sistematicamente por Kant, que causa problemas, mas os dois campos de aplicação sucessivos que Husserl lhe atribuiu, sem que nenhum deles coincidisse verdadeiramente com o que Kant havia associado a ele, como já indica, em Husserl, a ausência ou extrema raridade de seu oposto: a posteriori. Pois os leitores de Kant não podem deixar de se surpreender ao começar a ler Husserl, percebendo que ele inicialmente falou de uma aprioridade objetiva, como se a objetividade fosse, portanto, o lugar de exercício por excelência dessa noção, na medida em que, para ele, todo objeto que aparece só pode fazê-lo de acordo com certas leis de essência que comandam a priori o conjunto de relações que ligam os diferentes tipos de partes ao todo que ele forma. Foi apenas muito mais tarde que ele começou a falar de um a priori subjetivo, no sentido de que também haveria leis invariáveis que, do lado das “aparições”, e não mais dos “aparecentes”, teriam regido as relações que deveriam se estabelecer entre os diferentes tipos de vividos intencionais, de acordo com a ordem da [12] fundação transcendental na qual eles se integrariam, aquém dos dois modelos de objetividade transcendente, correspondendo respectivamente ao a priori sintético material e ao a priori analítico formal, cujo processo de diferenciação ele inicialmente quis reconstituir a partir do próprio desenvolvimento da intencionalidade.