Quando meditamos sobre a Idade Moderna nos perguntamos pela imagem moderna do mundo. Nós a caracterizamos mediante uma distinção frente à imagem do mundo medieval ou antiga. Entretanto, por que nos perguntamos pela imagem do mundo na hora de interpretar uma época histórica? Será que cada época da história tem a sua própria imagem do mundo de uma maneira tal que inclusive se preocupa mesmo por alcançar esta imagem? Ou este negócio de perguntar pela imagem do mundo somente diz respeito a um modo moderno de representação das coisas?
O que é isso — uma imagem do mundo? Parece evidente que se trata de uma: imagem do mundo. Porém, o que significa mundo neste contexto? O que significa imagem? O mundo é aqui o nome que se dá ao ente em sua totalidade. Não se reduz ao cosmos, à natureza. Também a história forma parte do mundo. Porém até a natureza e a história e a sua mútua e recíproca penetração e superação não conseguem esgotar aquilo que é o mundo. Nesta designação está também suposto o fundamento do mundo, seja qual for o tipo de relação que imaginemos do fundamento com o mundo.
A palavra “imagem” faz pensar em primeiro lugar na reprodução de algo. Segundo isto, a imagem do mundo seria uma espécie de quadro do ente em sua totalidade. Porém o termo “imagem do mundo” quer dizer muito mais que isto. Com essa palavra nos referimos ao próprio mundo, a ele, o ente em sua totalidade, tal como ele se nos resulta vinculante e tal como ele se nos impõe a sua medida. “Imagem” não significa aqui um decalque, mas aquilo que ressoa na locução alemã: “wir sind über etwas im Bilde”, isto é, “temos um quadro de alguma coisa”. Isto quer dizer que a própria coisa aparece diante de nós precisamente tal como ela é com respeito a nós mesmos. Fazer-se uma imagem de algo significa situar o ente mesmo diante de si para ver o que ocorre com ele e mantê-lo sempre diante de si nesta posição. Falta, porém, ainda uma determinação primordial na essência da imagem. O “ter um quadro de algo” não somente significa que o ente se nos represente, mas que em tudo o que lhe pertence e forma parte dele se apresenta diante de nós como sistema. “Ter um quadro de algo” também implica estar inteirado, estar preparado para algo e apto para tomar consequentemente aquilo que está disposto. Ali onde o mundo se converte em imagem, o ente em sua totalidade está disposto como aquilo em virtude do que o homem pode tomar suas disposições, como aquilo que, portanto, o homem quer trazer e ter diante de si, isto é, em um sentido decisivo, quer situar diante de si. Imagem do mundo, compreendida essencialmente, não significa portanto uma imagem do mundo, mas o conceber o mundo como imagem. O ente em sua totalidade se entende de tal maneira que somente é e pode ser desde o momento em que é posto pelo homem que representa e produz. Onde a imagem do mundo alcança tem lugar uma decisão essencial sobre o ente em sua totalidade. Busca-se e encontra-se o ser do ente na representabilidade do ente.
Porém, em qualquer lugar no qual o ente não seja interpretado neste sentido, tampouco o mundo pode chegar à imagem, não pode haver nenhuma imagem do mundo. É o fato de que o ente chegue a ser na representabilidade o que faz com que a época na qual isto ocorre seja nova relativamente à anterior. As expressões “imagem do mundo da Idade Moderna” e “moderna imagem do mundo” dizem o mesmo duas vezes e dão por suposto algo que antes nuca pôde haver: uma imagem medieval e outra antiga do mundo. A imagem do mundo não passa de medieval à moderna, mas é o próprio fato de que o mundo possa converter-se em imagem que caracteriza a essência da Idade Moderna. Ao contrário, para a Idade Média, o ente é o ens creatum, aquilo criado por um deus criador pessoal em sua qualidade de causa suprema. Ente quer dizer aqui pertencer a um determinado grau dentro da ordem do criado e, enquanto elemento desse modo causado, corresponder à causa criadora (analogia entis). [DZW]