ideia

grego: idea

Não foi Platão que fez com que o real se mostrasse à luz das ideias. O pensador apenas respondeu ao apelo que lhe chegou e que o atingiu. [GA7, pag. 21]

Pois, na linguagem de todo dia, eidos diz a visão que uma coisa visível nos apresenta à percepção sensível. Ora, Platão pretende da palavra algo inteiramente extraordinário. Pretende designar o que jamais se poderá perceber com os olhos. E a extravagância não termina aí. Pois idea não evoca apenas o perfil não sensível do que se vê sensivelmente. Idea, o perfil, significa e é também o que perfaz a essência de tudo que se pode ouvir, tocar, sentir, de tudo que, de alguma maneira, se nos torna acessível. [GA7, pag. 23]

Já Sócrates e Platão pensaram a essência de uma coisa, como a vigência, no sentido de duração. Mas eles pensaram o duradouro, como o que sempre é e perdura (aei on). O que sempre perdura, eles o encontraram no que permanece em tudo o que ocorre e se dá. Esta permanência, eles a encontraram na estrutura (eidos, idea) do perfil, por exemplo, na ideia de “casa”.
Na ideia mostra-se o que é tudo que se constitui, como casa. Já as casas reais e possíveis são variações mutantes e passageiras da “ideia” e, nesta condição, não perduram e nem pertencem ao duradouro.
Ora, por outro lado, não se pode, de modo algum, provar que o duradouro deva fundar-se única e exclusivamente na idea pensada por Platão, no to ti ne einai (o que cada coisa já sempre foi, o ser em tendo sido), pensado por Aristóteles ou no que, nas mais diversas interpretações, a metafísica pensa, como essentia.
Todo vigente dura. Mas será mesmo que só é duradouro o que perdura e permanece? Será mesmo que a essência da técnica vige no sentido da duração de uma ideia que paira acima de tudo que é técnico, a ponto de se formar a aparência: o termo “a técnica” é uma abstração mítica? Ora, só se pode perceber, como vige a técnica, pela continuidade da duração em que a com-posição se dá e acontece em sua propriedade, no envio de um descobrimento. [GA7, pag. 33]

De acordo com a doutrina socrático-platónica, as ideias constituem o “sendo” de todo ente. As ideias não pertencem, porém, ao âmbito dos aistheta, das coisas captadas sensivelmente. As ideias são puramente visíveis apenas no noein, apenas no captar não sensivelmente. O ser pertence ao âmbito dos noeta, do não-sensível, do supra-sensível. Plotino interpretou a sentença de Parménides em sentido platónico. De acordo com essa interpretação, Parménides quer dizer que o ser não é algo sensível. O peso da sentença recai sobre o pensamento, embora num sentido diverso do que para a filosofia moderna. Caracteriza-se o ser mediante o seu modo não sensível. Segundo a interpretação neoplatônica da sentença de Parménides, o que está em jogo não é nem uma enunciação sobre o pensar e nem sobre o ser e nem tampouco uma enunciação sobre a essência da copertença entre ambos enquanto duas coisas distintas. A sentença é a enunciação sobre a pertença de ambos como o que igualmente pertence ao âmbito do não-sensível. [GA7 211]