Certamente precisamos também da História. Não será ao modo dos historiadores, perdendo-nos nas continuidades evolutivas que estão na origem das grandes Filosofias, mas será, sim, para que a própria substância espiritual delas exerça sobre nós a sua acção sugestiva. De facto, estas Filosofias históricas exalam uma vida filosófica na plenitude da sua riqueza e do seu vigor de motivações vivas, desde que saibamos penetrar intuitiva mente nelas, na alma das suas palavras e teorias. Mas não é com as Filosofias que chegamos a ser filósofos. Não passar da História, preocupar-se com ela numa actividade histórico-crítica, e pretender chegar à Ciência filosófica, em elaborações eclécticas ou renascenças anacrônicas, não são mais do que tentativas desesperadas. Não é das Filosofias que deve partir o impulso da investigação, mas, sim, das coisas e dos problemas. A Filosofia, porém, é por essência uma ciência dos inícios verdadeiros, das origens, dos rizomata panton. A ciência do radical tem que proceder também radicalmente, e a todos os respeitos. Sobretudo ela não (73) deve descansar antes de ter chegado aos seus inícios, isto é aos seus problemas absolutamente claros, aos métodos delineados no próprio sentido destes problemas, e ao campo ínfimo da laboraçao de coisas de apresentação absolutamente clara. Somente, nunca se deve renunciar à independência radical de preconceitos, — sendo, pois, mister deixar-se de identificar de antemão semelhantes «coisas» com «factos» empíricos e de ficar cego perante as idéias, de ampla apresentação absoluta na ideação directa. Somos demasiado dominados por preconceitos que provêm ainda da Renascença. Aquele que é deveras independente de preconceitos, não se importa com uma averiguação ter a sua origem em Kant ou Tomás de Aquino, em Darwin ou em Aristóteles, em Helmholtz ou em Paracelso. Não é preciso postular-se que se veja com os próprios olhos, mas antes que se deixe de eliminar o visto numa interpretação que os preconceitos impõem. Como nas ciências modernas mais impressionantes, que são as matemáticas e físicas, a parte exteriormente maior dos trabalhos segue os métodos indirectos, somos demasiado inclinados a sobrestimar os métodos indirectos e a depreciar o valor das percepções directas. Mas é precisamente próprio da Filosofia, desde que remonte às suas origens extremas, o seu trabalho científico situar-se em esferas de intuição directa, e constitui o maior passo a dar pela nossa época, reconhecer-se que a intuição filosófica no sentido autêntico, a percepção fenomenológica do Ser, abre um campo imenso de trabalho e leva a uma ciência que, sem todos os métodos indirectamente simbolizantes e matematizantes, sem o aparelho das conclusões e provas, não deixa de chegar a amplas intelecções das mais rigorosas e decisivas para toda a Filosofia ulterior.
Husserl (FCR:72-73) – O ideal do radicalismo
- Anne Fagot-Largeault – A intersubjetividade transcendental em Edmund Husserl
- Beaufret (1998:24-25) – Husserl e Heidegger
- Buren (GA63:nota 1) – intencionalidade da consciência (termos de Husserl)
- Caron (2005:135-136) – desacordo sobre o solo da fenomenologia (Husserl e Heidegger)
- Caron (2005:95-98) – o embate Heidegger e Husserl
- Cerbone – Husserl e a desanalogia entre tipos de coisas
- Creusa Capalbo: principais conceitos da fenomenologia de Husserl
- Dastur (2015:94-96) – Binswanger e Husserl
- de Castro (2009) – A comunicação linguística de uma perspectiva da Fenomenologia de E. Husserl
- Drummond (Husserl) – fundador da fenomenologia moderna