Verstehenshorizontes des Daseins
Novamente foi tentada uma caracterização da intenção fundamental e do movimento da conferência, o que mais uma vez levou a uma reflexão sobre Ser e Tempo.
A partir do modo de pensar metafísico, todo o caminho da conferência, e isto quer dizer, a determinação do ser à partir do Ereignis, pode ser interpretado como o retorno ao fundamento, à origem. A relação entre Ereignis e ser seria então a relação do a priori com o a posteriori, não devendo-se, no entanto, compreender por a priori apenas o a priori do conhecimento e para o conhecimento, que passou a imperar na Filosofia Moderna. Trata-se, portanto, de um complexo de fundação, que, visto a partir de Hegel, poderia ser determinado, de modo mais preciso, como o reassumir (re-assumir) e o sobressumir do ser no interior do Ereignis.
Esta interpretação parece também ser sugerida em virtude de haverem sido caracterizados intenção e modo de proceder de Ser e Tempo através da expressão “Ontologia fundamental” — expressão que logo, e precisamente com o intuito de afastar este mal-entendido, foi abandonada. O decisivo que nisto deve ser considerado é a relação da ontologia fundamental com a única questão do sentido do ser, preparada em Ser e Tempo. Segundo Ser e Tempo, a ontologia fundamental é a analítica (277) ontológica do ser-aí. “Por isso a ontologia fundamental, da qual todas as outras ontologias apenas podem originar-se, deve ser procurada na analítica existencial do ser-aí” (Ser e Tempo, p. 13). Esta passagem parece sugerir que a ontologia fundamental é o fundamento para a ontologia que ainda falta mas que deve ser edificada sobre aquela. Pois, se se trata da questão do sentido do ser, se sentido é projetado, se o projeto acontece na e como compreensão, se a compreensão do ser constitui o traço fundamental do ser-aí, então a elaboração do horizonte da compreensão do ser-aí é a condição de qualquer elaboração da ontologia, sendo que esta, como poderia parecer, somente pode ser edificada sobre a ontologia fundamental do ser-aí. Desta maneira, a relação fundamental com a não mais publicada clarificação do sentido do ser seria análoga, digamos, com a relação que subsiste entre teologia fundamental e teologia sistemática. (MHeidegger Protocolo do Seminário sobre a Conferência “Tempo e Ser”)