Henry (1963) – tempo, horizonte puro do ser

A auto-afeição tem um duplo significado. Ela designa, em primeiro lugar, a afeição por si mesmo. Enquanto designa uma afeição por si, a auto-afeição do tempo significa que é o próprio tempo que se afeta. Isso quer dizer, antes de tudo, que o tempo não é afetado por outra coisa que não ele mesmo, ou seja, essencialmente, que não é afetado pelo ente. É por isso que se pode dizer do tempo que ele é “afetado fora da experiência”, entendendo por experiência a determinação do sujeito, ou seja, do próprio tempo, por um elemento ôntico. Pois, sem dúvida, tal determinação existe, mas essa afeição ôntica pressupõe, como sua condição de possibilidade, uma afeição ontológica e pura. Em que consiste essa afeição, o que é então que afeta o tempo, se não é o ente? É o próprio tempo, sob a forma do horizonte puro do ser. Pois o tempo é essencialmente horizonte. Enquanto o pensamento não se elevar a essa concepção do tempo como horizonte transcendental do ser, ou seja, à ideia de um tempo puro, a natureza deste permanece incompreensível para ele. A intuição do tempo é então confundida, de fato, com a da coisa que está no tempo. A definição do instante, do “agora”, é feita a partir do ente que está ali. Mas o ente que está ali foi primeiro esperado, logo será passado. Um lugar puro que ele deveria preencher foi previamente aberto para ele, assim como foi aberta a dimensão ela mesma pura onde ele será conservado. Como o ente poderia constituir esse lugar e essa dimensão se ele não está ali? Assim como o futuro e o passado, no entanto, o ente não poderia definir o presente. Pois o presente é apenas um instante efêmero que não seria nada se não consistisse, de fato, em ver vir e ver passar a coisa da qual dizemos que está ali agora para nós. O agora supõe, portanto, como pertencente à sua própria estrutura, o ato de prever e o de reter no olhar, ou seja, o horizonte puro que torna possível toda presença como tal. (MHEM)

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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