Granel (1972:116-118) – questão sobre o sentido do ser

destaque

Com Sein und Zeit, em 1927, surgiu uma “questão sobre o sentido do ser” — ou, mais sucintamente, uma “questão do ser” — que todos sabem ter guiado o pensamento de Heidegger desde então. No entanto, logo na primeira frase — a primeira frase do primeiro livro — esta questão parece estar envolta em esquecimento. Sein und Zeit é um esforço único de pensamento para arrancar a questão do ser do esquecimento. No entanto, a luta entre a questão e o próprio esquecimento tem lugar, de certa forma, no interior do esquecimento, e está assim escondida a nossos olhos — exceto como esta nuvem do combate, feita de relâmpagos e pólvora, o refúgio segundo Homero disto que é divino na decisão do destino.

O esquecimento, a princípio: encontra-se em toda a tradição filosófica ocidental (não há outra), ou melhor, é toda essa tradição, de Platão e Aristóteles a Husserl.

A questão em seguida: consiste numa “tese” sobre o sentido do ser (que a questão com efeito não busca senão porque o “sabe”). A tese diz uma só coisa de três faces: 1. O ser é o mundo. 2. O ser é o desvelamento de si mesmo num “aí” (o Da-sein) que somos, e que não é, no entanto, o homem, mas o ser do homem. 3. O Da-sein é finitude — “finitude no homem” — enquanto compreensão do ser.

E isso é tudo. Não há mais nada em Sein und Zeit para além da afirmação desta tripla e única tese, e do esforço para a tornar explícita.

original

  1. Kant et le Problème de la Métaphysique (GA3), trad. fr. p. 285.[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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