A própria análise semântica da palavra mostra o estreito parentesco do conceito do belo com o questionamento que desenvolvemos. A palavra grega que traduz o termo alemão schõn (belo) é kalon. O alemão não tem, para esta palavra, nenhuma correspondência exata, e tampouco nos ajudaria muito acrescentar, como termo mediador, o termo pulchrum. No entanto, o pensamento grego exerceu uma influência determinante sobre a história do significado da palavra alemã, de maneira que ambas as palavras já possuem em comum traços semânticos essenciais. Falamos, por exemplo, de “belas” artes, e com o atributo “belas” as distinguimos do que chamamos técnica, isto é, as artes “mecânicas”, que produzem coisas úteis. Algo parecido ocorre com expressões compostas como: bela moralidade, bela literatura, “espiritualmente belo” etc. Em todos esses empregos, a palavra se encontra numa oposição parecida à do grego kalon com respeito ao conceito chresimon. Chama-se kalon tudo o que não faz parte das necessidades da vida, mas que diz respeito ao modo de viver, ao eu zen, isto é, tudo o que os gregos compreendiam sob o termo de paideia. São coisas belas aquelas cujo valor é evidente por si mesmo. Não tem sentido perguntar pelo objetivo a que devam servir. São excelentes por si mesmas (di’ hauto hairetori), não em virtude de outras coisas, como ocorre com o útil. O simples uso lingüístico já permite reconhecer que o que se chama kalon possui uma categoria ôntica superior. VERDADE E MÉTODO TERCEIRA PARTE 3.
Gadamer (VM): paideia
- Figal (2015) – Beleza [Heidegger e Gadamer]
- Gadamer (1987:350-354) – ethos e ética
- Gadamer (1987) – ser e não-ser
- Gadamer (1993:C1) – Arte da Medicina
- Gadamer (1993:C1) – da episteme à ciência
- Gadamer (1993:C1) – o domínio da ciência moderna
- Gadamer (1993:C1) – práxis
- Gadamer (1993:C2) – iatrike techne
- Gadamer (1993:Prefácio) – Saúde não é algo que se possa fazer
- Gadamer (1994) – Sein – Wesen