Hegel demonstra que, no fundo, numa tal pessoa está faltando poder de abstração: não consegue deixar de se levar em consideração e ter em vista um sentido universal, pelo qual paute sua particularidade com medida e postura. GVM I 1
O conceito de “juízo de gosto estético puro” é uma abstração metódica, que está de viés para a diferença entre a natureza e a arte. GVM I 1
A verdadeira beleza seria a das flores e dos ornamentos que, no nosso mundo dominado pelos fins, se apresentam de antemão e a partir de si como belezas e que por isso não se torna necessário que, de início, haja uma abstração consciente de um conceito ou finalidade. GVM I 1
Em face da abstração do entendimento, bem como em face da particularidade da percepção ou da representação, esse conceito [vida] implica a vinculação à totalidade, e ao infinito. GVM I 1
Será que, em face da obra de arte, o comportamento estético é uma atitude adequada? Ou será que o que denominamos “consciência estética” é uma abstração? A nova avaliação da alegoria, de que falamos, indica que, na verdade, também na consciência estética há um momento dogmático que firma sua validade. GVM I 1
O que chamamos de obra de arte e vivenciamos esteticamente repousa, portanto, sobre um desempenho de abstração. GVM I 1
A abstração da consciência estética produz, nesse particular, um desempenho que é, para si mesma, positivo. GVM I 1
Com isso — diferenciando-se da diferenciação que exerce um gosto preenchido e determinado em selecionar e rejeitar — deve-se caracterizar a abstração, que, como tal, somente pratica uma seleção em relação à qualidade estética, como tal. GVM I 1
Faz a abstração de todas as condições de acesso sob as quais uma obra se apresenta a nós. GVM I 1
A abstração ao “estético puro” suspende claramente a si mesma. GVM I 1
Mas a percepção específica de uma situação dada dos sentidos é, como tal, uma abstração. GVM I 1
Já mostramos que foi uma abstração metódica, tendo por finalidade um trabalho de fundamentação bem determinado e transcendental, que levou Kant a vincular o juízo estético inteiramente ao estado do sujeito. GVM I 1
Se, em seguida, essa abstração estética foi entendida do ponto de vista do conteúdo, e foi transformada na exigência de compreender a arte “meramente do ponto de vista estético”, vemos agora como essa exigência de abstração para a experiência real da arte depara-se com uma contradição insolúvel. GVM I 1
Nesse caso, a linguagem antecipou uma abstração, que, em si, é tarefa da análise conceitual. GVM I 2
A obra de arte não é simplesmente isolável da “contingência” das condições de acesso sob as quais se mostra, e onde essa isolação acaba ocorrendo, o resultado é uma abstração, que reduz o ser próprio da obra. GVM I 2
É a mútua pertença de ambas as partes o que temos de acentuar contra a abstração da diferenciação estética. GVM I 2
Esse quadro, que é pintado exclusivamente para a exposição ou galeria, o que foi se tornando regra com o recuo da arte por encomenda, vem claramente ao encontro da exigência de abstração da consciência estética, bem como da teoria da inspiração, que foi formulada na estética do gênio. GVM I 2
Com isso, ela dedica-se a uma abstração. GVM I 2
Mas essa abstração não é nenhuma arbitrariedade da reflexão filosófica, mas algo que ela encontra realizado pela consciência estética, para a qual tudo que se deixa subordinar à técnica de imagem da atualidade, no fundo, torna-se quadro. GVM I 2
A obra de arte será entendida, com isso, como um acontecimento do ser e desfaz-se sua abstração, na qual a diferenciação estética a coloca. GVM I 2
Queremos compreender sua peculiaridade, sem nos deixar enganar pela abstração exercida pela consciência estética. GVM I 2
Mesmo com relação a sinais naturais, p ex, prenúncios do temporal vale o fato de que só possuem a sua função de referência através da abstração. GVM I 2
A “obra de arte em si” se apresenta como uma pura abstração. GVM I 2
Por mais que tenhamos conseguido evidenciar, que a “diferenciação estática” é uma abstração, que não está em condições de suspender a pertença da obra de arte ao seu mundo, também continua sendo inquestionável, que a arte jamais é apenas passado, mas consegue superar a distância dos tempos através da presença de seu próprio sentido. GVM I 2
Entretanto, o interesse que motivou Schleiermacher a essa abstração metodológica não era o do historiador, mas o do teólogo. GVM II 1
Por isso, ainda que se faça abstração da enorme influência que, a princípio, o empirismo inglês e a teoria do conhecimento das ciências da natureza exercem sobre Dilthey como se eles deformassem suas verdadeiras intenções, não é fácil de apreender essas intenções em uníssono. GVM II 1
Enquanto a hermenêutica de Schleiermacher repousava sobre uma abstração metodológica artificial, que procurava produzir uma ferramenta universal para o espírito, mas que se propunha, como objetivo, trazer à fala com a ajuda dessa ferramenta, à força salvadora da fé cristã, para a fundamentação das ciências do espírito de Dilthey a hermenêutica representava mais do que um instrumento. GVM II 1
Projeção e abstração são os seus conceitos-guia. GVM II 1
Projeção e abstração perfazem o comportamento vital primário. GVM II 1
O retorno a posições anteriores à abstração do neokantismo torna-se comum a ambos. GVM II 1
Pode-se dizer que o horizonte do próprio presente é algo tão fechado? É sequer pensável uma situação histórica limitada por um tal horizonte fechado? Ou não será isso um novo reflexo romântico, uma espécie de robinsonada do Aufklärung histórico, a ficção de uma ilha inalcansável, tão artificial quanto o próprio Robinson, o presumível fenômeno originário do solus ipse? Tal como cada indivíduo não é nunca indivíduo solitário, pois está sempre entendendo-se com os outros, da mesma maneira o horizonte fechado que cercaria uma cultura é uma abstração. GVM II 2
A história dos problemas somente seria história de verdade se reconhecesse a identidade do problema como uma abstração vazia e admitisse a mudança dos questionamentos. GVM II 2
O conceito do problema formula evidentemente uma abstração, ou seja, a eliminação do conteúdo de uma pergunta, da pergunta que o abre pela primeira vez. GVM II 2
Desse modo, caracteriza-se o desconcerto da consciência filosófica, face ao historicismo, no fato de que buscou refúgio na abstração do conceito de problema e não viu problema algum na questão de saber como os problemas realmente “são”. GVM II 2
Pois somente porque existe essa unidade vale a pena, para o investigador, realizar a abstração, pela qual, em cada caso, converte em seu objeto a linguagem como tal. GVM III 1
Por isso, nessa sua função, tem de se destacar do contexto em que se encontra e em que terá de ser tomado como signo, e justo com isso suspender o seu ser-coisa e embutir-se (desaparecer) no seu significado: é a abstração do próprio indicar. GVM III 2
A linguisticidade é tão inerente ao pensar das coisas, que se torna uma abstração pensar o sistema das verdades como um sistema prévio de possibilidades de ser, a que deveriam ser subordinados signos que um sujeito emprega quando lança mão deles. GVM III 2
Nesse sentido, o esquema lógico de indução e abstração pode ser uma fonte de erros, já que na consciência linguística não tem lugar nenhuma reflexão expressa sobre o que é comum ao diverso, e o uso das palavras em seu significado geral não entende aquilo que elas designam e ao que se referem, como um caso subordinado sob a generalidade. GVM III 2
E evidente que o que se expressa nessas transposições é a particularidade de uma experiência, e que não são, portanto, o fruto de uma conceituação pela abstração. GVM III 2
O caminho que Humboldt segue, na sua investigação, está determinado pela abstração rumo à forma. GVM III 3
Ao mesmo tempo, um conceito de linguagem como esse representa uma abstração a que nosso próprio objetivo nos obrigará a dar marcha à ré. GVM III 3
A partir do centro da linguagem, o procedimento objetivador do conhecimento da natureza e o conceito do ser em si, que corresponde à intenção de todo conhecimento, se nos mostraram como o resultado de uma abstração. GVM III 3
A evocação dessa liberdade continua sendo sempre uma abstração perigosa. VERDADE E METODO II PRELIMINARES 4
Como é possível dar-se uma permanência na fugacidade dos fenômenos, no fluxo constante de impressões cambiantes? É certamente a capacidade de retenção, portanto a memória, que nos capacita reconhecer algo como o mesmo, e isso é resultado de uma grande abstração. VERDADE E METODO II COMPLEMENTOS 11
Exige-se de todos um gigantesco esforço de abstração para tomar consciência expressa da gramática do idioma que se domina enquanto língua materna. VERDADE E METODO II COMPLEMENTOS 11
Antigamente, quando ainda se acreditava na tarefa de abstração materializada no aprendizado da gramática e da sintaxe de uma língua, figuravam frases absurdas, falando sobre César ou sobre o Tio Carlos, por exemplo. VERDADE E METODO II COMPLEMENTOS 11
Mas se até Max Weber relacionou o pathos de sua sociologia avalorativa à confissão não menos patética de um “deus” que cada um deve escolher, poderíamos realmente admitir a abstração de que sempre podemos partir de fins estabelecidos? Em caso afirmativo, bastaria um saber técnico para estarmos a caminho de um futuro esplêndido, uma vez que a perspectiva de entendimento é muito maior entre técnicos do que entre homens de Estado. VERDADE E METODO II COMPLEMENTOS 12
Isso significaria incorrer numa outra abstração. VERDADE E METODO II COMPLEMENTOS 12
Hoje, ao contrário, a extraordinária abstração com que o ideal do método da ciência moderna separa e delimita seu objeto expõe de forma acirrada a diferença qualitativa tanto entre o saber da ciência, em constante auto-superação, e o caráter definitivo e irrevogável de toda decisão real quanto aquela diferença entre o especialista e o político. VERDADE E METODO II COMPLEMENTOS 12
A queda livre foi uma abstração. VERDADE E METODO II COMPLEMENTOS 14
Mas é só essa abstração que possibilita a descrição matemática exata dos fatores que dão um resultado no processo da realidade natural, possibilitando assim a intervenção controlada do homem. VERDADE E METODO II COMPLEMENTOS 14
Que tipo de abstração se produziu aqui? A abstração pela qual a única coisa que conta aqui é o que foi enunciado. VERDADE E METODO II COMPLEMENTOS 14
Possibilitando a aplicação prática que chamamos de técnica, a abstração metodológica da ciência moderna teve êxito. VERDADE E METODO II COMPLEMENTOS 14
Não aparece, também aqui, o fato de que todo enunciado tem sempre uma motivação? À base da abstração e da concentração no poder de transformação, que no século XVII culminou nesse grande pensamento metodológico da ciência moderna, encontra-se uma ruptura com as ideias religiosas do universo medieval e uma decisão em favor do conhecimento e da emancipação. VERDADE E METODO II COMPLEMENTOS 14
Seria uma falsa abstração pensar que no domínio e no trabalho não encontramos sobretudo experiências concretas de nossa existência humana, nossas valorações, nosso diálogo conosco mesmos encontram sua realização concreta e sua função crítica. VERDADE E METODO II COMPLEMENTOS 15
Como um exemplo extremo, a estatística ensina que a ciência encontra-se constantemente sob determinadas condições metodológicas abstratas e que os resultados positivos das ciências modernas consistem em bloquear outras possibilidades interrogativas pela abstração. VERDADE E METODO II OUTROS 17
Faço abstração aqui de que o pesquisador, mesmo o pesquisador da natureza, talvez não esteja totalmente livre da moda e da sociedade, de todos os fatores possíveis de seu entorno; o que afirmo é que dentro de sua experiência científica o que o faz ter ideias fecundas não são tanto as “leis da lógica rígida” (Helmholtz) mas as constelações imprevisíveis, seja a queda da maçã de Newton ou qualquer outra observação onde se acende a chama da inspiração científica. VERDADE E METODO II OUTROS 17
Não nego que a abstração das opiniões pessoais represente um esforço justificado de compreensão. VERDADE E METODO II OUTROS 19
E no entanto penso que a experiência hermenêutica nos ensina que a força dessa abstração é sempre limitada. VERDADE E METODO II OUTROS 19
Considerado a partir da perspectiva hermenêutica — que é a perspectiva de cada leitor — , o texto não passa de um mero produto intermediário, uma fase no acontecer compreensivo que encerra sem dúvida uma certa abstração: o isolamento e a fixação desta mesma fase. VERDADE E METODO II OUTROS 24
Mas essa abstração toma o caminho inverso daquele tomado pelo linguista. VERDADE E METODO II OUTROS 24
A mera sucessão dos signos escritos sem pontuação representa de certo modo e na forma extrema a abstração comunicativa. VERDADE E METODO II OUTROS 24
Ela supera a abstração do escrito não somente porque o texto seja legível, quer dizer, compreensível em seu sentido. VERDADE E METODO II OUTROS 24
Em seu esforço para construir uma fundamentação hermenêutica das ciências do espírito, Dilthey encontrou uma forte oposição da escola epistemológica, que naquele momento também buscava fundamentar as mesmas ciências, partindo do ponto de vista neokantiano, ou seja, da filosofia dos valores desenvolvida por Windelband und Rickert O sujeito epistemológico pareceu-lhe ser uma abstração anêmica. VERDADE E METODO II ANEXOS 27
Pois bem, parece-me que Hegel mostrou com toda validez que a separação dessas duas funções de juízo é uma mera abstração e que juízo, na verdade, sempre são ambas as coisas. VERDADE E METODO II ANEXOS 29