Já nos momentos iniciais decisivos da filosofia antiga mostra-se algo essencial 1. Kosmos não quer dizer este ou aquele ente mesmo que irrompe e se impõe com insistência, nem quer dizer também tudo isto reunido; mas significa “estado”, isto é, o como em que o ente, e, em verdade, na totalidade, é. Kosmos outos não designa, por isto, este âmbito de entes em contraste com outro, mas este mundo dos entes à diferença de um outro mundo do mesmo ente, o eon mesmo kata kosmon 2. O mundo enquanto este “como na totalidade” já está na base de toda possível divisão do ente; esta não destrói o mundo, mas sempre dele carece. Aquilo que está en to eni kosmou 3 não o formou primeiramente por um processo de aglomeração, mas é dominado prévia e inteiramente pelo mundo. Heráclito reconhece um outro rasgo essencial do kosmos 4 [155]: [citação em grego] “Aos despertos pertence um mundo comum, cada um dos que dormem, no entanto, volta-se para seu próprio mundo.” Aqui o mundo está posto em relação com modos fundamentais em que o ser-aí humano existe faticamente. Na vigília, o ente se mostra em um como sempre uníssono, em geral acessível a cada um. No sono, o mundo do ente é exclusivamente individuado para cada ente em particular. (GA9PT:154-155)
- Cf. K. Reinhardt, Parmenides e a história da filosofia grega, 1916, p. 174s e 216, nota.[
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- Cf. Diels, Fragmentos dos pré-socráticos: Melissos, Fragm. 7; Parmênides, Fragm. 2.[
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- Ibid. Anaxágoras, Fragm. 8.[
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- lbid. Heráclito, Fragm. 89.[
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