Porque se fala contra os “valores” surge uma indignação em face de uma filosofia que — assim se pretende — se atreve a desprezar os bens mais elevados da humanidade. Pois, o que é “mais lógico” do que isto: um pensamento que nega os valores, terá necessariamente que declarar tudo sem VALOR? (CartaH)
O pensamento contra “os valores” não afirma ser sem VALOR tudo que se considera como “valores”, a saber, a “cultura”, a “arte”, a “ciência”, a “dignidade humana”, o “mundo” e “Deus”. Ao contrário. Trata-se de se compreender de uma vez por todas, que, ao caracterizar algo como um “VALOR”, se lhe rouba a dignidade. O que quer dizer: ao se avaliar uma coisa como VALOR, só se admite o que assim se valoriza, como objeto de uma avaliação do homem. Ora, o que uma coisa é, em seu ser, não se esgota em sua ob-jetividade e principalmente quando a ob-jetividade possui o caráter de VALOR. Toda valorização, mesmo quando valoriza positivamente, é uma subjetivação. Pois ela não deixa o ente ser mas deixa apenas que o ente valha, como objeto de sua atividade (Tun). O esfôrço extravagante, de se provar a objetividade dos valores, não sabe o que faz. Dizer-se que “Deus” é “o VALOR supremo”, é uma degradação da Essência de Deus. Pensar em termos de VALOR é aqui — como alhures — a maior blasfêmia, que jamais se possa pensar com relação ao Ser. Pensar contra os valores não significa, por conseguinte, tocar os tambores da desvalorização (Wertlosigkeit) e da nulidade (Nichtigkeit) do ente mas significa: pro-pôr ao pensamento, contra a subjetivação do ente, como simples ob-jeto, a clareira da Verdade do Ser. (CartaH)