A tomada de posição correta em relação a estas proposições surge de uma renovada meditação da preleção. Ela deve examinar se o nada, que afina a angústia em sua essência, se esgota em uma vazia negação de tudo o que é ou se aquilo que jamais e em parte alguma é um ente se desvela como aquilo que se distingue de todo ente e que nós chamamos o ser. Qualquer que seja o lugar em que a amplitude com a qual toda pesquisa explora o ente, em parte alguma ela encontra o ser. Ela nunca atinge senão o ente porque, antecipadamente, já na intenção de sua explicação, permanece junto ao ente. O ser, porém, não é uma qualidade ôntica do ente. O ser não se deixa representar e produzir objetivamente à semelhança do ente. O pura e simplesmente outro com relação ao ente é o não-ente. Este nada, porém, não se essencia como ser. Com demasiada pressa renunciamos ao pensamento quando fazemos passar, em uma explicação superficial, o nada pelo puramente nulo e o igualamos ao que é desprovido de essência. Em vez de cedermos a essa pressa própria a uma perspicácia vazia e sacrificarmos a enigmática multivocidade do nada, devemos nos armar com a disposição única de experimentarmos no nada a amplidão daquilo que garante a todo ente ser. Isto é o próprio ser. Sem o ser, cuja essência abissal, mas ainda não desenvolvida o nada nos envia na angústia essencial, todo o ente permanecería na ausência de ser. Mas mesmo esta ausência de ser enquanto abandono do ser não é, por sua vez, um nada nulo; se é certo que à verdade do ser pertence o fato de que o ser nunca se essencia sem o ente, de que o ente jamais é sem o ser. (GA9; GA9PT:317-318)