GA89:109-110 – mistério do corpo

Arnhold & Almeida Prado

De que forma o meu corpo participa do tornar presente? Na medida em que eu estou aqui. Que papel desempenha o corpo neste estar-aqui? Onde é o aqui? Em que relação fenomenal está o aqui com o meu corpo?

P: Aqui é onde está o meu corpo.

H: Mas o meu corpo não é o aqui. Onde está o meu corpo? Como o senhor determina o aqui? Onde estou eu, onde está o senhor? De que grande e difícil questão trata-se aqui? Evidentemente da questão de como o corpo se relaciona com o espaço. Evidentemente o corpo se relaciona com o espaço de um modo totalmente diverso do que, por exemplo, uma cadeira que está simplesmente presente (à mão) no espaço. O corpo ocupa um espaço. Está ele limitado pelo espaço? Por onde correm os limites do corpo? Onde termina o corpo?

P: Ele não termina.

H: Isso significa que ele teria uma extensão ilimitada? Se não foi isso o que o senhor teria querido dizer, então em que pensa com esta afirmação? Supostamente no seu alcance. Mas de onde e como o alcançar é próprio do corpo? Seria o alcance do corpo da mesma espécie que aquele de um foguete na plataforma de lançamento? Se alguém vive, como se diz, no mundo da Lua, que função teria então o seu corpo? Quando o filósofo Tales caminhando, pensativo, caiu num buraco, e as moças caçoaram dele, seu corpo não estava exatamente no mundo da Lua, mas sim ausente. Justamente quando – como no caso citado – eu me entrego a algo de corpo e alma, o corpo está ausente. Mas este estar ausente do corpo não é um nada, mas sim um dos fenômenos mais misteriosos da privação. [HEIDEGGER, Martin. Seminários de Zollikon: protocolos, diálogos, cartas. Tr. Gabriella Arnhold, Maria de Fátima de Almeida Prado. São Paulo: Escuta, 2017, p. 104-105]

Fédier

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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