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Giachini
Na última quarta-feira prosseguimos analisando a certeza em Descartes. Na sua segunda obra principal, de 1644, os Principia philosophiae, ele diz o seguinte no livro I, § 7: “Haec cognitio ‘ego cogito ergo sum’ est omnium prima et certíssima quae cuiliber ordine philosophanti occurrat”. Esse conhecimento “eu represento e assim eu sou” é o primeiro e o mais certo de todos que ocorre a qualquer um que filosofe seguindo a ordem correta.
Toda e qualquer pessoa humana, portanto, que coloca essa questão pela indubitabilidade seguindo uma ordem correta chega a esse conhecimento. Em todas as percepções, portanto, o “eu sou” se dá de maneira óbvia e evidente.
No § 9 Descartes define o conceito de cogitatio: “cogitationes nominae intelligo illa omnia quae – nobis conciis – in nobis fiunt, quatenus eorum in nobis conscientia est…”
“Sob o nome cogitatio compreendo tudo aquilo que nos acontece, na medida em que ternos consciência de nós mesmos, na medida em que há em nós uma consciência disso”.
“Atque ita non modo intelligere, vele, imaginari, sed etiam sentire idem est hic quod cogitare.” E por isso, não só conhecer, querer, imaginar – mas também sentir é o mesmo que cogitare”, uma sensação, portanto, é uma cogitatio, na medida em que dela tenho consciência. – Se estabelecermos referência dessa questão com nosso subiectum, então temos: res ego como res cogitans, o eu como autoconsciência é o que jaz de antemão, ο ὑποκείμενον, o subiectum.
A partir de Descartes, portanto, já não é mais a árvore o prejazente, o sujeito, mas o homem, que pode dizer “eu”. De certo modo o conceito de “sujeito” foi destacado e restrito. Correspondentemente, também o conceito de objeto sofre uma reviravolta: Tudo que não é “ego”, tudo que não é res cogitans, que não é sujeito, a res extensa, a natureza, é objeto. Deus se distingue desses dois como substância infinita, como res infinita.
Todo pensamento moderno, portanto, é uma filosofia da subjetividade.