GA80: Tempo constitui todo “meu” Dasein

tradução do inglês

Esse avanço antecipativo para a possibilidade mais extrema de mim mesmo, que ainda não sou, mas será, significa ser futural. Eu próprio sou meu futuro em virtude desta avançar antecipativo. Não estou no futuro, mas sou eu mesmo futural. Ser culpado nada mais é do que carregar o passado consigo mesmo, pois ser culpado é uma espécie de passado. Neste estado de culpa, podemos ver como alguém se apega ao passado e como junto com isto esse Dasein humano, através de suas ações, entra autenticamente no presente. Em sendo resolvido, o Dasein é o seu futuro, em sendo culpado, é o seu passado, e em agindo, ele entra no presente. O aí-sendo do Dasein nada mais é do que tempo-sendo. O tempo não é algo que encontro lá fora no mundo, mas é o que eu mim-mesmo sou. Ao avançar antecipativamente, sendo culpado e agindo, o tempo ele mesmo é aí para nós. O tempo caracteriza o todo do Dasein. A qualquer momento em particular, o Dasein não está apenas no momento, mas ao invés é ele mesmo dentro de toda a extensão de suas possibilidades e de seu passado. É notável como, em agindo na direção do futuro, o passado ganha vida e o presente desaparece. Aqueles que agem autenticamente vivem desde o futuro e também podem viver desde o passado; o presente se cuida de si mesmo. O tempo constitui todo o meu Dasein e também define meu próprio sendo a cada momento. A vida humana não acontece no tempo, mas ao invés é o tempo ele mesmo. Isso ficará mais claro se pudermos mostrar que, mesmo em sua maneira cotidiana de ser, o Dasein é caracterizado pelo tempo.

Como é o tempo para nós na vida cotidiana? É obviamente aí para mim quando decido ou determino algo a seu respeito, quando olho para o relógio e digo “agora. O que está acontecendo neste agora? Que é este tempo que é certificado quando o Dasein é organizado em termos de horários, dias, semanas e anos? Nesses meios de se orientar a si mesmo, já é possível ver que toda a vida é definida de maneira peculiar pelo tempo. Estas formas de organizar o tempo são caracterizadas pela preocupação. Preocupação significa trazer o que foi colocado sob os cuidados de alguém para dentro do presente; por uma certa maneira de gerenciá-lo, disponibilizamos isso que ainda não está disponível. No cuidado jaz certa antecipação ou espera, ou seja, certa relação ao futuro. Espero algo do futuro que me afete; não é algo que eu sou, mas algo que eu tenho que lidar. Preocupar-se dessa maneira com o futuro é ao mesmo tempo esquecer. O que é da preocupação perde o caráter de ter se tornado o que é; é simplesmente aí para nós. Sua história é encoberta. Torna-se uma questão cotidiana. O contra-fenômeno para esta espera, portanto, não é memória mas esquecimento. A vida cotidiana sempre vive no presente, que fornece a medida com a qual o futuro é calculado e o passado esquecido. Essa tendência de permanecer no presente é o que trouxe o uso de relógios. Por que há relógios? Porque a vida cotidiana quer ter o curso do mundo disponível no “agora”. Agora e então, e então e então. . . . Nada além de mais agoras que se desejam disponibilizar no reino de todos. Para tornar esses agora acessíveis universalmente, é necessário um relógio.

Charles Bambach

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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