GA71:§63 – Pensar sobre o pensamento

Casanova

Na medida em que nos dispomos a responder a essa pergunta, encontramo-nos inopinadamente em meio a uma postura estranha. O homem que vive de maneira reta e natural também pensa, seja mesmo porquanto leva em consideração, reflete ou conjectura algo urgente. Pede-se o auxílio do pensamento como de uma espécie de instrumento, que manuseamos. (Martelo – fixar o prego; o mesmo acontece com o pensamento que fixa aquilo que representamos. Isso está em ordem.) O que acontece, porém, quando pensamos sobre o pensar: isso se parece com uma tentativa de martelar o martelo. Não é possível fazer isso; não, em todo caso, com um e o mesmo martelo; com esse não é possível martelar a si mesmo.

Posto, porém, que algo assim fosse e seja de fato possível, então isso só aconteceria por intermédio de um segundo instrumento. Se, por exemplo, o cabo se afrouxa, nós martelamos o pino-martelo propriamente dito, para que ele fique uma vez mais firme. Martelar o pino-martelo, pensar o pensamento -mas não de tal modo, porém, senão de maneira intermitente com vistas à manutenção do instrumento. Martelar como martelar coisas. Assim também o pensar objetos. Pensar sobre o pensamento em nome da manutenção. Se o pensar não está mais “em condições ” é preciso colocar em condições de pensar. (Em contrapartida, isso se dá de maneira estranha, quando nos restringimos a pensar “sobre” – a saber, tal pensamento, de modo perturbado, louco (loucamente “reflexivo”), egocêntrico, aprisionado e antinatural.) Em nosso caso, no entanto, não sobre o pensamento, mas para distinguir diversos modos e elucidar a essência do pensar insigne. Distinguir o pensar e o pensar. Esse pensar à mão, encontrando-se diante de nós? Como martelo, alicate? De qualquer modo, contudo, aqui também (psicologia do pensamento) em meio a um pensar habitual e filosófico. Já distinguimos aqui. Não obstante – quem nos diz que o pensar é um pensar pensante – por exemplo, Kant? Com certeza, porém, o que é o filosófico e o que é o habitual? O filosófico inabitual não ajuda nada (já ter distinguido. Distinguir! Pensar! Não apenas não se encontrando diante de nós, mas também não sendo instrumento, senão? Faculdade e atividade (atos de pensamento), comportamento – “ser”). Pensar sobre o pensamento – não refletir, imanentemente, mas imaginar por meio do pensamento – fantasia.

Pensar – poetar: a palavra – o mesmo e precisamente não. Filosofia – ser-aí (pensar). [GA71MAC:§63]

Rojcewicz

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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