GA6T2:135-136 – homem medida de todas as coisas

A sentença de Protágoras diz (segundo a sua transmissão (Überlieferung) em Sextus Empiricus): panton chrematon metron estin anthropos, ton men onton hos esti, ton de me onton hos ouk estin (cf. Platão, Teeteto, 152).

De acordo com a tradução corrente, essa sentença diz: “O homem é a medida de todas as coisas, das que são, que elas são, das que não são, que elas não são.” Poder-se-ia achar que Descartes estaria falando aqui. Em todo caso, a sentença revela de maneira suficientemente clara o “subjetivismo” da sofística grega, um “subjetivismo” tão frequentemente acentuado. Para não sermos confundidos em meio à interpretação dessa sentença pelo fato de colocarmos em jogo pensamentos modernos, tentaremos inicialmente uma tradução que seja mais conforme ao pensamento grego. A “tradução” (Übersetzung) já contém naturalmente a interpretação (Auslegung).

“De todas as ‘coisas’ (a saber, daquelas coisas que o homem tem constantemente em torno de si no uso e no costume — chremata, chresthai) o homem (respectivo) é a medida (Mass), das que se presentam, que elas assim se presentem, como se presentam, daquelas, porém, para as quais permanece vedado presentar-se, que elas não se presentem.”

Fala-se aqui do ente e de seu ser. O que se tem em vista é o ente que se presenta a partir de si mesmo na esfera do homem. Ora, mas quem é aí “o” homem? O que significa aqui anthropos? Quem responde a essa questão para nós é Platão, que, na posição em que discute a sentença, deixa Sócrates perguntar o seguinte: oukoun houto pos legei, hos hoia men hekasta emoi phainetai toiauta men estin emoi, hoia de soit toiauta de au soi; anthropos de su te kago: “Será que ele (Protágoras) não compreende isso mais ou menos assim: aquilo como o que respectivamente cada coisa se mostra para mim (também) é de um tal aspecto que ela é para mim, como o que, porém, ela se mostra para ti, de um tal aspecto ela é por sua vez para ti? Homem, contudo, tu és tanto quanto eu?” Por conseguinte, “o homem” é aqui o “respectivo” (eu, tu, ele e ela); qualquer um pode dizereu” (Ich); o homem respectivo é o “eu” respectivo. Com isso, contudo, atesta-se de antemão — quase literalmente — que se trata do homem concebido “egoicamente”, que o ente enquanto tal é definido segundo o padrão do homem assim determinado, que a verdade sobre o ente possui, consequentemente, aqui e lá, em Protágoras e em Descartes, a mesma essência, que ela é avaliada e medida por meio do “ego”. (GA6T2PT:100)