Casanova
De acordo com os dados conjuntos da história do homem sobre a Terra, o caráter técnico-industrial que vem se preparando há um século e meio determinará, concomitantemente, o destino ulterior da ciência atual. Dessa feita, o conteúdo significativo da palavra “ciência”1 desenvolver-se-á na direção em que ela passará a equivaler ao conceito francês de Science, sob o que devem ser entendidas as disciplinas técnico-matemáticas. Os grandes ramos da indústria e o Estado-Maior já sabem dar, hoje, “informações” sobre as necessidades científicas melhor do que as “universidades”; eles já têm também os maiores meios e as melhores forças, porque estão, de fato, mais próximos do “que é realmente efetivo”.
O que se denominam “ciências humanas” não se desenvolverá retroativamente até se tornar uma espécie de arte integrante das antigas “belas-artes”; ele se converterá em um instrumento de educação “política a serviço de uma visão de mundo”. Só cegos e entusiastas ainda acreditarão que é possível manter por toda a eternidade a imagem, a distribuição das ciências e o seu funcionamento alcançados na década entre 1890 e 1900 com os correspondentes retoques apropriados. O estilo técnico da ciência moderna, um estilo que já estava prelineado em seus primórdios, não é alterado pelo estabelecimento de novas metas para essa técnica. Por meio daí, ele não é senão consolidado de maneira derradeira e efetivamente legitimado. Sem a técnica dos grandes laboratórios, sem a técnica das grandes bibliotecas e arquivos, assim como sem a técnica de um ser jornalístico consumado, é impensável hoje um trabalho científico frutífero e um efeito correspondente. Toda atenuação e obstrução desse estado de fato é reação. [GA6MAC:186]
Original
Was man »Geisteswissenschaft« nennt, wird sich aber nicht zu einem Bestandstück der früheren »schönen Künste« zurückentwickeln, sie wird sich in ein »politisch-weltanschauliches« Erziehungswerkzeug umgestalten. Nur Blinde und Schwärmer werden noch glauben, es lasse sich das Bild und die Verteilung der Wissenschaften und deren Betrieb aus dem Jahrzehnt zwischen 1890 und 1900 für ewige Zeiten mit den jeweils passenden Übermalungen festhalten. Der in ihren Anfängen schon vorgezeichnete technische Stil der neuzeitlichen Wissenschaft wird nicht verändert durch neue Zwecksetzungen für diese Technik, er wird dadurch nur endgültig verfestigt und ins Recht gesetzt. Ohne die Technik der großen Laboratorien, ohne die Technik der großen Bibliotheken und Archive und ohne die Technik eines vollendeten Nachrichtenwesens ist eine fruchtbare wissenschaftliche Arbeit und eine dementsprechende Wirkung heute undenkbar. Jede Abschwächung und Hemmung dieser Tatbestände ist Reaktion.
Im Unterschied zur »Wissenschaft« steht es in der Philosophie ganz anders. Wenn hier »Philosophie« gesagt wird, ist nur das Schaffen der großen Denker gemeint. Dieses hat auch in der Art der Mitteilung seine eigenen Zeiten und Gesetze. Die Eile des Herausbringens und die Angst des (268) Zuspätkommens fallen hier schon deshalb weg, weil es zum Wesen jeder echten Philosophie gehört, daß sie von ihren Zeitgenossen notwendig mißverstanden wird. Sogar sich selbst gegenüber muß der Philosoph aufhören, sein eigener Zeitgenosse zu sein. Je wesentlicher und umwälzender eine philosophische Lehre ist, um so mehr bedarf sie erst der Heranbildung jener Menschen und Geschlechter, die sie aufnehmen sollen. So müssen wir uns noch heute damit ab-mühen, z. B. die Philosophie Kants in ihrem wesentlichen Gehalt zu begreifen und aus den Mißdeutungen seiner Zeitgenossen und Anhänger herauszulösen. [GA6:267-268]
- N.T.: Heidegger refere-se ao conteúdo significativo da palavra alemã para ciência: Wissenschaft. Essa palavra possui uma relação direta com a palavra saber (Wissen) e com a consumação desse saber (Wissenschaft).[↩]