GA6PT:368-369 – biologismo

Se, por exemplo, determinados pontos de vista sobre o vivente, dominantes na biologia, forem transportados da esfera do vegetal e do animal para uma outra esfera do ente, digamos, a esfera da história, então se poderá falar aqui de um biologismo. Nesse caso, esse termo designa a já mencionada extensão, talvez mesmo extrapolação e transgressão dos limites do pensamento biológico, para além da própria esfera da biologia. Na medida em que se vê aí uma exploração abusiva, uma violência sem fundamento por parte do pensamento e, por fim, uma confusão inerente ao conhecimento, precisamos perguntar qual é a razão de tudo isso.

O erro do biologismo, contudo, não está apenas na transferência e na extensão infundada de conceitos e de proposições do campo próprio aos seres vivos para o restante dos entes. Ao contrário, o erro reside já no desconhecimento do caráter metafísico das proposições do campo; proposições por meio das quais toda autêntica biologia restrita ao seu campo já se remete para além de si e, com isso, já demonstra que, como ciência, nunca pode assumir o poder sobre si mesma com os meios de sua própria essência. O biologismo não é tanto a degeneração sem travas do pensamento biológico, ele é muito mais a completa ignorância quanto ao fato de que já o próprio pensamento biológico só pode ser fundamentado e decidido na esfera metafísica e jamais pode justificar a si mesmo cientificamente. O mesmo tipo de coisa que acontece quando, nos casos mais excepcionais, todo pensamento habitual e científico se torna inverídico por proceder de maneira ilógica e superficial. O fundamento para a degeneração do pensamento científico, sobretudo a degeneração que se dá sob a forma da ciência popular, sempre reside na ignorância em relação ao plano no qual uma ciência se movimenta e pode se movimentar, isto é, ao mesmo tempo, na ignorância em relação ao caráter único que é requerido em toda meditação essencial e em sua fundamentação.

(HEIDEGGER, Martin. Nietzsche (volume único). Tr. Marco Antonio Casanova. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014, p. 368-369)

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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