GA66:60 – humanização do homem

Casanova

Toda determinação da essência do homem está suspensa na questão: como é que concebemos o ente na totalidade ao qual o ente – chamado homem – está enquadrado? Assim, a tarefa de demarcação essencial desse ente é salva e transportada para uma interpretação do ente na totalidade já realizada ou pouquíssimo pensada em suas condições de realização. Contudo, se essa interpretação deve emergir de uma meditação, então se anuncia ao mesmo tempo como repercussão dessa meditação a questão: quem somos nós que determinamos aí justamente o ente na totalidade e o tomamos até mesmo por suficientemente determinado por meio de uma explicação a partir de uma causa suprema? Deste modo, a questão acerca do homem retorna uma vez mais. O problema é que ela se transformou ou se encontra à beira de uma transformação incontornável; incontornável com certeza apenas para a vontade de meditação. Se renunciamos a essa meditação, então tudo permanece em meio a uma oscilação infrutífera entre uma interpretação do ente na totalidade e uma interpretação do ente “particular”, que nós achamos conhecer como o homem.

Para a meditação, porém, emerge a experiência: o homem só pode determinar o ente na totalidade e a si mesmo como o ente que ele é com base no assinalamento à verdade do seer. O seer mesmo precisa ter se superapropriado do homem segundo o fundamento de sua essência para a verdade do seer. Somente este acontecimento apropriativo porta aquela clareira na qual o ente na totalidade e o homem podem se encontrar, a fim de medir o quão longe se encontram.

Se o homem se subtrai àquela meditação – e quem pretenderia detê-lo então ele se salva por fim na explicação de todo ente como um construto da “imaginação” humana; a antropomorfização do ente em geral é a primeira e última sabedoria: o antropologismo. E quanto mais livre se arroga a humanização do homem, (139) quanto mais exclusivamente o homem se explica a partir daquilo que se encontra nele situacionalmente presente à vista e previamente dado de maneira objetiva, a partir do animal como o animal racional que aparece, tanto mais incondicionada e tenazmente se afirma a antropomorfização do ente na totalidade.

A humanização do homem, contudo, é apenas a nuvem de poeira que segue o redemoinho da fuga velada e selvagem do homem ante a sua essência, uma fuga que porta a máscara de uma vitória, que se anuncia como libertação da completa e específica autodeterminação do animal “homem” e requisita a autoevidência como a característica de sua verdade.

A humanização do homem, porém, não é apenas o fundamento da antropomorfização do ente na totalidade, mas ao mesmo tempo a deificação do mundo. Nesta figura fatídica, o “antropologismo” alcança sua essência metafísica irrestrita.

Como é possível, no entanto, superar a humanização do homem? Somente a partir da decisão pela fundação da verdade do seer. Com ela, o homem não é apenas distinto como ente em relação a um ente. Ao contrário, ele também é transposto por ela na clareira do seer e reunido de antemão com o seer com base no acontecimento de uma apropriação do ser do homem pelo seer, uma apropriação que já aconteceu, mas que ainda não foi sondada de maneira fundamental.

Emad & Kalary

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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