GA65:59 – Falta de questionamento e encantamento

Casanova

Costuma-se denominar a era da “civilização” aquela era do des-encantamento, e esse parece, antes, andar junto somente com a completa ausência de questão. Contudo, é o contrário o que se dá. Não é preciso senão que se saiba de onde vem o encantamento. Resposta: do domínio ilimitado da maquinação. Se a maquinação chegar à dominação final, se ela entremear tudo, então não haverá mais condições para notar ainda expressamente o encantamento e opor-se a ele. O enfeitiçamento por meio da técnica e de seus progressos que se ultrapassam constantemente é apenas um sinal desse encantamento, em consequência do qual tudo é impelido para o cálculo, utilização, cultivo, maneabilidade e regulação. Até mesmo o “gosto” torna-se agora objeto dessa regulação, e tudo alcança um “bom nível”. O mediano torna-se cada vez melhor, e em virtude desse melhoramento, ele assegura seu domínio de modo cada vez mais irresistível e sem chamar a atenção.

É certamente uma conclusão enganadora achar que, quanto mais elevado o mediano, tanto mais predominante se torna a altura das realizações acima da média. Essa conclusão mesma é um sinal traiçoeiro da calculabilidade dessa postura. Permanece a questão, se ainda é preciso em geral um lugar para o que está acima da média, ou se a satisfação em meio ao mediano não se torna cada vez mais tranquilizante e legítima, até que ela até mesmo se convença de já ter realizado e poder realizar à vontade imediatamente aquilo que o que está acima da média pretende oferecer.

A constante elevação de nível do mediano e, paralelamente, o alargamento e propagação dos níveis até a plataforma de toda funcionabilidade em geral é o sinal mais inquietante do desaparecimento dos espaços de decisão, é sinal do abandono do ser. [GA65PT:123-124]

Fédier

Emad & Maly

Rojcewicz & Vallega-Neu

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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