GA65:136 – homem – seer

Casanova

Se falarmos sobre a ligação do homem com o seer e, inversamente, do seer com o homem, então isso soa facilmente como se o seer se essenciasse para o homem como um em-face-de e como um objeto.

Mas o homem é apropriado em meio ao acontecimento como ser-aí pelo seer como o acontecimento apropriador e, assim, ele pertence ao próprio acontecimento apropriador.

O seer não “está” nem em volta do homem, nem oscila apenas também através dele como um ente. Ao contrário, o ser se apropria em meio ao acontecimento do ser-aí e se essencia assim pela primeira vez como acontecimento apropriador.

O acontecimento apropriador, no entanto, não tem como ser de maneira alguma re-presentado como uma “ocorrência dada” e como uma “novidade”. Sua verdade, isto é, a própria verdade, só se essencia no abrigo enquanto arte, pensamento, poetação, ato, exigindo, por isso, a insistência do ser-aí, que rejeita toda aparência de imediatidade do mero re-presentar.

O seer se essencia como acontecimento apropriador. Esse é o fundamento e o abismo da disposição do deus sobre o homem e, em meio a uma viragem, do homem para o deus. Essa disposição, porém, só é suportada no ser-aí.

(Se o seer nunca pode ser determinado como o “que há de mais geral” e “mais vazio” e “mais abstrato”, porque ele permanece inacessível a todo re-presentar, então também não é possível, e, com efeito, pela mesma razão, expô-lo como o “que há de mais concreto” e, ainda menos, concebê-lo como o acoplamento dessas duas interpretações em si insuficientes).

A disposição em meio à viragem é afinada em consonância com o ser-aí na tonalidade afetiva da retenção, e o elemento afinador é o acontecimento apropriador. Se, contudo, nós interpretarmos a tonalidade afetiva segundo a nossa representação de “sentimento”, então poder-se-ia dizer aqui facilmente: ao invés de estar referido ao “pensar”, o seer está referido agora ao “sentir”. Mas o quão sentimental e extrinsecamente não pensamos aí sobre os “sentimentos” como “faculdades” e “fenômenos” de uma “alma”; o quão distantes nos encontramos da essência da tonalidade afetiva, quer dizer, do ser-aí. [GA65PT:252-253]

Picotti

Fédier

Emad & Maly

Rojcewicz & Vallega-Neu

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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