Casanova
A representação da totalidade do mundo como “caos” deve prover para Nietzsche a possibilidade de uma defesa contra a humanização do ente na totalidade. Humanização é tanto a explicação moral do mundo a partir da resolução de um criador quanto a explicação técnica copertinente a partir da atividade de um grande artesão (demiurgo). Mas humanização também é toda imposição de ordem, articulação, beleza, sabedoria ao “mundo”. Tudo isso não é outra coisa senão “humanização estética”. Também tem lugar uma humanização [245] quando atribuímos “razão” ao ente e dizemos que ele ocorre racionalmente no mundo, assim como se dá naquela sentença de Hegel que certamente diz muito mais do que é capaz de deduzir daí o senso comum: “O que é racional é real; e o que é real é racional” (Prefácio a Linhas fundamentais da filosofia do direito). Mas também quando estipulamos a irrazão como princípio do mundo tem lugar uma humanização. E tampouco reside no ente uma pulsão de autoconservação.
“Atribuir ao ser (o que se tem em vista aqui é o ente na totalidade) um ‘sentimento de autoconservação’! Loucura! Atribuir ao átomo a aspiração ao prazer e ao desprazer!” (A Gaia Ciência, XII, n. 101).
Mesmo a representação de que o ente transcorre segundo “leis” é um modo de pensar jurídico-moral, e, consequentemente, do mesmo modo uma humanização. No ente não há “finalidades”, “metas” e “intenções”, e, se não há nenhuma meta, também está excluído o que é desprovido de meta, o “acaso”.
“Tomemos cuidado para não acreditarmos que o todo possui uma tendência para alcançar certas formas, que ele quer ser mais belo, mais perfeito, mais complicado! Tudo isso é humanização! Anarquia, feiura, forma – são conceitos impróprios. Para a mecânica não há nada imperfeito” (Ibid., XII, 111).
Krell
For [92] Nietzsche the representation of the totality of the world as “chaos” is to engineer a defense against the “humanization” of being as a whole. Humanization includes both the moral explanation of the world as the result of a creator’s resolve and the technical explanation pertaining to it which appeals to the actions of some grand craftsman (the demiurge). But humanization also extends to every imposition of order, articulation, beauty, and wisdom on the “world.” These are all results of the “human aesthetic habit.” It is also a humanization when we ascribe “reason” to beings and aver that the world proceeds rationally, as Hegel does in a statement which, to be sure, says a great deal more than what common sense is able to glean from it: “Whatever is rational, is real; and whatever is real, is rational. ”(From the Preface to Hegel’s Foundations of the Philosophy of Right. 1) Yet even when we posit irrationality as the principle of the cosmos, that too is a humanization. Equally unacceptable is the notion that a drive to self-preservation inheres in being: “To attribute a feeling of self-preservation to Being [meant is being as a whole] is madness! Ascribing the ‘strife of pleasure and revulsion’ to atoms!” (XII, number 101). Also the notion that beings proceed according to “laws” is a moralistic-juridical mode of thought, and hence is equally anthropomorphic. Nor are there in beings any “goals” or “purposes” or “intentions”; and if there are no purposes, then purposelessness and “accident” as well are excluded.
Let us guard against believing that the universe displays a tendency to achieve certain forms, that it wants to become more beautiful, more perfect, more complex! All of that is humanization! Anarchy, deformity, form – these concepts are irrelevant. For mechanics, nothing is imperfect. (XII, 111)
Original
Die Vorstellung des Weltganzen als »Chaos« soll für Nietzsche die Abwehr einer »Vermenschung« des Seienden im Ganzen leisten. Vermenschung ist sowohl die moralische Erklärung der Welt aus dem Entschluß eines Schöpfers, als auch die dazugehörige technische aus der Tätigkeit eines großen Handwerkers (Demiurgen). Vermenschung ist aber auch alles Hineintragen von Ordnung, Gliederung, Schönheit, Weisheit in die »Welt«. Dies alles sind »ästhetische Menschlichkeiten«. Vermenschung ist es auch, wenn wir dem Seienden »Vernunft« zuschreiben und sagen, daß es in der Welt vernünftig zugehe, bis zu jenem Satz Hegels, der freilich noch mehr besagt, als der gemeine Verstand herausliest: »Was vernünftig ist, das ist wirklich; und was wirklich ist, das ist vernünftig.« (Vorrede zu »Grundlinien der Philosophie des Rechts«) Aber auch, wenn wir die Unvernunft als Weltprinzip ansetzen, ist dies eine Vermenschung. Ebensowenig liegt im Seienden ein Selbsterhaltungstrieb. »Dem Sein [gemeint ist das Seiende im Ganzen] »Selbst-erhaltungsgefühl‟ zuschreiben! Wahnsinn! Den Atomen »Streben von Lust und Unlust!‟« (XII, n. 101)
Auch die Vorstellung, das Seiende laufe nach »Gesetzen« ab, ist eine moralisch-juristische Denkweise, daher gleichfalls Vermenschung. Im Seienden gibt es auch keine »Ziele« und »Zwecke« und »Absichten«, und wenn es keine Zwecke gibt, ist auch das Zwecklose, der »Zufall« ausgeschlossen.
[350] »Hüten wir uns zu glauben, daß das All eine Tendenz habe, gewisse Formen zu erreichen, daß es schöner, vollkommener, komplizierter werden wolle! Das ist alles Ver-menschung! Anarchie, häßlich, Form — sind ungehörige Begriffe. Für die Mechanik gibt es nichts Unvollkommenes.« (XII, 111)