GA63:36 – cultura

O modelo de relação de nosso hoje com o passado (Vergangenheit) é algo que se pode verificar nas ciências históricas do espírito (Geisteswissenschaft). Elas apresentam-se a si mesmas como meio em que a experiência histórica (geschichtliche Erfahrung) da vida passada se faz acessível e estabelecem, além disso, como se deve objetualizar (Vergegenständlichung) o passado de maneira teórico-científica. Elas caracterizam o passado histórico (geschichtliche Vergangenheit) em sua aparência, uma aparência de concepção bem determinada, e apresentam-no como se, em determinados aspectos, estivesse gravado na “consciência de formação” (Bildungsbewusstsein) (um como da interpretação pública (öffentlichen Ausgelegtheit)) e como se constituísse um patrimônio disponível. O passado e a vida passada passam a ser domínio objetual da ciência.

Nestas ciências, de antemão, considera-se o ser-aí passado (vergangenes Dasein) como isto ou aquilo? Com que caráter objetual apresenta-se o ser-aí para as ciências? Nos mais diversos estudos e análises concretas de arte, literatura, religião, costumes, sociedade, ciência e economia as quais valem de antemão para a caracterização decisiva, o aparecimento enquanto “expressão” (Ausdruck), isto é, objetivações do subjetivo (Objektivationen von Subjektivem), de uma vida cultural (Kulturlebens) (alma cultural (Kulturseele)) que pressiona e tende a tomar forma nelas (Anotação de Heidegger a este parágrafo: “O conjunto é por demais psicológico; melhor colocar também à vista os modos de ser temporal, do ser-em e a ontologia dominante”.).

A uniformidade (Einheitlichkeit) predominante com que uma vida (Leben) possa alcançar expressão de certa cultura, e na qual se mantém e envelhece, é o que se costuma chamar de estilo peculiar de determinada cultura. O fato de que não se questione mais pelo caráter ontológico daquilo que as criações culturais são expressão, torna manifesto como o interesse compreensivo tem por finalidade as formas de expressão enquanto tais no como de seu ser expressivo (Ausdrucksein). A última e única determinação de ser é: a cultura é um organismo, vida autônoma e independente (desenvolvimento, florescimento, decadência). (GA63:36; tr. Kirchner:43)

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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