GA6 – vontade e comando

Ele diz, por exemplo: a vontade é um “afeto”, a vontade é uma “paixão”, a vontade é um “sentimento”, a vontade é um “comando”. GA6MAC I

Alguém que não sabe o que quer não quer absolutamente, e não pode querer de maneira alguma; não há um querer em geral: “pois a vontade é, como afeto do comando (Affekt des Befehls), o sinal decisivo do autoassenhoramento e da força” (A gaia ciência, Livro V, 1886; V, 282). GA6MAC I

Não se está diante de um idealismo inequívoco quando se tende a compreender por isso uma recondução da vontade à representação? No entanto, Schelling não quer outra coisa em meio a essa construção linguística extravagante senão acentuar o que Nietzsche traz à tona na vontade quando diz: a vontade é um comando; pois quando Schelling diz “entendimento” e o idealismo alemão fala em saber, o que se tem em vista não é a faculdade da representação, como imagina a psicologia, ou seja, não é nenhum comportamento que apenas acompanharia contemplativamente os outros processos da vida psíquica. GA6MAC I

Todos os momentos introduzidos da vontade – o para-além-de-si, a intensificação, o caráter de comando, o criar, o afirmar-se – falam de maneira suficientemente clara e deixam reconhecer que a vontade é, em si, vontade de poder; poder não diz outra coisa senão a realidade efetiva da vontade. GA6MAC I

E Nietzsche nos diz isso: vontade é comando (cf, por exemplo, XIII, ns. GA6MAC III

A vontade não é algo fora do poder, mas o comando para o exercício do poder que impera na essência do poder. GA6MAC IV

A vontade de poder é o sobre-elevar-se até o interior das possibilidades devenientes de um comando que erige a si mesmo, um sobre-elevar-se que permanece em seu cerne mais íntimo a transformação do devir enquanto tal em algo constante e que, porquanto se mostra como estranha e hostil a todo mero prosseguimento em direção ao sem fim, se opõe a esse prosseguimento. GA6MAC IV

Querer nunca seria querer ser senhor se a vontade só permanecesse um querer e uma aspiração, ao invés de ser desde o seu fundamento tão somente: comando. GA6MAC VI

A vontade é agora a pura autolegislação sobre si mesma: o comando para a sua essência, isto é, o comando para o comando, a pura dinâmica de realização de poder própria ao poder. GA6MAC VI

 

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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