GA54:247-248 – sujeito [Subjekt]

Wrublevski

O homem moderno possui uma “experiência vivida” do mundo e pensa o mundo naqueles termos, isto é, em termos de si mesmo como um ente que, enquanto fundamento, está na base da fundação de toda a explicação e ordenação dos entes como um todo. Na linguagem da metafísica, o que está na base da fundação é subiectum. O homem moderno é, em sua essência, o “sujeito”. Somente porque ele é “sujeito”, podem seu eu (Ich) e seu ego (Ichheit) ser essenciais. Mas o fato de que um tu é colocado em oposição ao eu, pelo que o eu é colocado em seus limites e a relação eu-tu é colocada em sua valência, e que, então, o lugar do indivíduo é tomado pela comunidade, pela nação, pelo povo, pelo continente, e pelo planeta, isso de nenhuma forma, falando metafisicamente, cancela a subjetividade do homem moderno, mas antes, e somente então, a conduz para seu estado incondicional. No lugar do pensar essencial se impõe “antropologia”, a forma anglo-americana para o que é sociologia. Somente onde o homem se tornou sujeito, os entes não-humanos se tornam objetos. Somente no interior do âmbito da subjetividade pode irromper uma disputa sobre objetividade, sobre sua validade, sobre seu lucro e perda, e sobre suas vantagens e desvantagens em cada caso particular.

Dado que, porém, a essência do homem, para os gregos, não é determinada como “sujeito”, o conhecimento do começo do Ocidente histórico é difícil e estranho para o “pensar” moderno, pressuposto que a “vivência” moderna não simplesmente interpreta retroativamente suas vivências para dentro do mundo grego, como se o homem moderno experimentasse uma relação de intimidade pessoal com o helenismo pela simples razão de que organiza “jogos olímpicos”, periodicamente, nas principais cidades do planeta. Aqui, somente a fachada ainda é emprestada do mundo grego. Com isso, não é dito nada contra as próprias olimpíadas, mas contra a opinião errônea de que tais coisas tivessem alguma relação com a essência grega. Mas devemos sabê-lo, se quisermos reconhecer a essência completamente diversa da história moderna, isto é, se quisermos, ao mesmo tempo, experimentar nosso próprio destino na sua determinação essencial. Esta tarefa, no entanto, é por demais estranha e séria, a ponto de dever serem tomadas em consideração as opiniões sem pensamento e a tagarelice. Quem acolhe sem presunções o dito nessas preleções como o que é dito simplesmente, como uma palavra de atenção e de cautela incipiente no pensar, deverá rapidamente colocar de lado todas as “emoções” sentimentais de uma “tomada de posição” sem pensamento e apressada. Quem está sentado aqui somente para surpreender a esmo materiais para seus sentimentos políticos ou antipolíticos, religiosos ou anti-religiosos, científicos ou anticientíficos, está no lugar errado, e está trocando o que casualmente vem à sua mente numa tarde qualquer com o que tem sido dado como tarefa de pensar no Ocidente nestes dois mil e quinhentos anos, desde quando teve seu começo histórico. Na verdade, a estupidez em circulação não deve, para alguém que pensa, ser uma razão para renunciar a colocar o essencial na sua mirada pertinente. A simples tagarelice não pode ser estancada. Mas, pela mesma razão, a consideração do nível em que alguém, por demais indolente para pensar, se acha diz a possibilidade de colocar em risco o pensar essencial.

Schuwer & Rojcewicz

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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