GA5:227 – valores

No século XIX, torna-se corrente o discurso acerca dos valores (Rede von den Werten) e é comum pensar em valores. Mas só no seguimento da propagação dos escritos de Nietzsche é que o discurso dos valores se tornou popular. Fala-se em valores vitais, em valores culturais, em valores eternos, na hierarquia dos valores, em valores espirituais que, por exemplo, se crê encontrar na antiguidade. (Man spricht von Lebenswerten, von den Kulturwerten, von Ewigkeitswerten, von der Rangordnung der Werte, von geistigen Werten, die man z. R. in der Antike zu finden glaubt) Com a ocupação erudita com a filosofia, e com a transformação no neokantismo, chega-se à filosofia dos valores (Wertphilosophie). Edificam-se sistemas de valores e perseguem-se na ética as camadas de (210) valores (Schichtungen von Werten). Mesmo na teologia cristã, determina-se Deus, o summum ens qua summum bonum, como o valor supremo. Tem-se a ciência como isenta de valores e lançam-se as valorizações para o lado das mundividências (Weltanschauungen). O valor (Wert) e o carácter de valor (Werthafte) tornam-se no substituto positivista do metafísico. A frequência do discurso dos valores corresponde a indeterminação do conceito. Esta, por seu lado, corresponde à obscuridade da proveniência essencial do valor a partir do ser. Pois posto que este tão falado valor não é um nada, ele tem de ter a sua essência no ser.

(HEIDEGGER, Martin. Caminhos de Floresta. Tr. Irene Borges-Duarte et alii. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2014, p. 262)