GA4:52-54 – a natureza onipresente [allgegenwärtige Natur]

Pellegrini Drucker

O movimento interno destes três versos visa à palavra “natureza”, terminando de vibrar nela. O que Hölderlin aqui chama (64) “natureza” permeia o poema inteiro, até a última palavra. A natureza “educa” o poeta. Ensino e aprendizado só conseguem incutir razões ou conhecimentos. Mas por si mesmos não têm poder nenhum. Alguma outra coisa, além do zelo humano pela fabricação humana, deve educar, de uma outra forma. A natureza educa “maravilhosa e onipresente”. Em tudo que é real, ela está presente. A natureza vem à presença no trabalho humano e no destino dos povos, nas estrelas e nos deuses, mas também nas pedras, plantas e animais, e também nos rios e temporais. “Maravilhosa” é a onipresença da natureza. Ela nunca se permite apontar precisamente dentro do âmbito do real, como se fosse algo real singular. O onipresente nunca é, tampouco, o resultado da composição de vários indivíduos reais. A totalidade do real, por sua vez, é, quando muito, a consequência do onipresente. Este se esquiva a toda explicação a partir do que é real. Jamais o onipresente poderia ser insinuado por meio do que é real. Já presente, ele impede, imperceptivelmente, que o real exerça sobre si alguma forma específica de coerção. Se o fazer humano o tenta, ou se o efetuar divino é empregado com esse propósito, conseguem apenas destruir a simplicidade do maravilhoso. Este se esquiva a toda ação de produzir, e, no entanto, perpassa cada qual com sua presença. Eis porque a natureza educa “em leve enlace” O onipresente não conhece nem a unilateralidade, nem o peso do apenas real, que se limita a ora apenas aprisionar o homem, ora apenas o repelir, ora apenas permanecer estável, sempre o abandonando à dispersão de tudo o que é casual. O “leve enlace” da natureza não indica tampouco uma impotência dos fracos. A “onipresente” e, de fato, a “potente”. De onde, porém, ela tira sua força, se, em tudo, já está previamente presente? A natureza não toma de empréstimo ainda mais força de lugar nenhum. Ela é o que torna forte. A essência da força se determina a partir da onipresença da natureza, que Hölderlin chama, “a potente, a divinamente bela”. A natureza é potente porque divinamente bela. Ela seria, portanto, igual a um deus ou uma deusa? Se fosse assim, então “a natureza” que já está presente em tudo, inclusive (65) nos deuses, seria novamente medida com o metro da divindade, e então já não seria mais “a natureza”. Ela se diz “bela” porque está “maravilhosamente em toda parte”. A totalidade da sua presença não significa que ela abarca todo real de modo completo, do ponto de vista quantitativo, mas o modo como rege e permeia até mesmo o real quando este parece se excluir de modo recíproco e opor-se a si mesmo. O onipresente sustenta, um contra o outro, os opostos mais extremos, o céu mais alto e o abismo mais profundo. Deste modo, o que opõe resistência ao outro permanece, na sua recalcitranda, separado dele. Assim, os opostos se descobrem na sua máxima nitidez. O aparente ao “extremo” é o aparente no mais alto grau. O que assim aparece é o atraente. Ao mesmo tempo, porém, o onipresente arrebata os opostos até a unidade do seu pertencimento recíproco. Tal unidade permite que o Obstinado não se apague numa compensação opaca, remetendo-o antes àquela calma que cintila, brilhando tranquila, a partir do fogo do combate em que os adversários se trazem mutuamente à luz. Tal unidade do onipresente é o Arrebatador. A natureza onipresente atrai e arrebata. A simultaneidade de atração e arrebatamento é, contudo, a essência do belo. A beleza deixa que os contrários sejam contrários, deixa que as relações recíprocas encontrem sua unidade, e assim deixa que tudo esteja presente em tudo a partir da pureza (Gediegenheit) do completamente diverso. A beleza é o onipresente. E “divinamente bela” se chama a natureza, porque um deus ou uma deusa, ao aparecer, evocam, de modo eminente, o semblante da atração e arrebatamento. Contudo, na verdade eles ainda não alcançam o puramente belo; pois sua aparição característica continua sendo uma aparência, pois a pura captura (“epifania”) parece o arrebatamento, e o arrebatamento (na imersão mística) parece uma captura. Ainda assim, o Deus alcança o grau máximo da aparência de beleza, e assim é o que mais se aproxima ao máximo do puro aparecer da onipresença.

Fédier

Original

  1. EHD, 2. Auflage 1951: [ἐκφανέστατον | ἐρασμιώτατον] τὸ καλόν[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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