GA29-30:52 – o homem normal [Normalmensch]

Casanova

Mas este ajuizamento do filosofar, que não é de modo algum novo, provém uma vez mais da atmosfera, em si bem transparente, dos homens normais e das convicções que lhes são dirigentes: a convicção de que o normal é o essencial, de que o mediano, e, com isso, universalmente válido, é o verdadeiro (o eterno mediano). Este homem normal toma suas aprazibilidades como critério para o que deve viger como sendo a alegria. Este homem normal toma os seus pequeninos acessos de medo como critério para o que deve ser o pavor e a angústia. Este homem normal toma as suas fartas comodidades como critério para o que pode viger como certeza ou incerteza. É, no mínimo, provável que agora tenha se tornado questionável se o filosofar como uma expressão e um diálogo maximamente derradeiros e extremos pode ser arrastado para a frente de tais juízes; se queremos deixar que estes juízes nos ditem a nossa tomada de posição com relação à filosofia ou se nos decidimos por um outro juiz, ou seja, se queremos chegar até ela junto a nós mesmos, junto ao ser humano que somos. Nós nos movemos hoje em uma interpretação do ser-aí humano, de acordo com a qual a filosofia, por exemplo, é um assim chamado bem cultural entre outros e talvez mesmo uma ciência, uma ciência que necessita de cuidados. Será que esta interpretação e o fato de ela ser a mais elevada já estão de todo assegurados? Quem nos garante que nesta sua autoapreensão de hoje em dia o homem não tenha elevado ao nível de Deus sua própria mediocridade?

Panis

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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