GA29-30:284-285 – pobre de mundo [weltarm]

Nós colocamos a tese “o animal é pobre de mundo” entre as outras duas: “a pedra é sem mundo” e “o homem é formador de mundo”. Se tomarmos a segunda tese em relação à terceira, então fica imediatamente claro o que se tem em mente. Pobre de mundo – pobreza diferente de riqueza; pobreza – o menos ante o mais. O animal é pobre de mundo. Ele tem menos. Menos o quê? Algo que lhe é acessível, algo com o que ele pode lidar enquanto animal, pelo que ele pode ser afetado enquanto animal, com o que ele pode se encontrar em ligação enquanto um vivente. Menos em comparação com o mais, em comparação com a riqueza, da qual dispõem as relações do ser-aí humano. As abelhas, por exemplo, possuem sua colmeia, os favos, as flores das quais elas retiram o alimento, as outras abelhas de sua colônia. O mundo das abelhas é limitado a uma determinada região e fixo em sua abrangência. No que concerne ao mundo dos sapos, ao mundo dos pintassilgos existe uma correspondência. Porém, o mundo de todo e qualquer animal não é apenas restrito em sua abrangência, mas também no modo de penetração no que é acessível ao animal. As abelhas trabalhadoras conhecem as flores que visitam, sua cor e aroma, mas não conhecem os estames destas flores enquanto estames. Elas não conhecem as raízes das flores, elas não conhecem algo assim como o número de estames e folhas. Perante este mundo, o mundo do homem é rico, maior em abrangência, mais amplo em penetração, não apenas constantemente expansível em sua abrangência (não se precisa aqui senão trazer a cada vez um ente a mais), mas também cada vez mais insistente no que concerne à penetração. Daí o fato de esta ligação com o mundo, tal como o homem a possui, poder ser caracterizada de um tal modo; daí a possibilidade de falarmos em expansibilidade do âmbito com o qual o homem se relaciona e em formação de mundo.

Se aproximamos ainda mais de nós a diferença entre “pobre de mundo” – “formador de mundo” desta forma, então esta diferença se revela como uma diferença de grau dos níveis de plenitude na posse do ente respectivamente acessível. Também já podemos retirar daí o conceito de mundo: mundo significa inicialmente a soma do ente (250) acessível, seja para o animal ou para o homem, variável segundo a abrangência e a profundidade da penetração. O “pobre de mundo” é ao mesmo tempo menos valoroso diante do “formador de mundo” como o mais valoroso. Um tal fato é tão inequívoco que não se precisa continuar falando sobre ele. Estas reflexões são óbvias, há muito correntes, tanto que não se compreende por que fazer tanto barulho por isto. Em que esta diferença poderia contribuir, afinal, para a determinação essencial da animalidade do animal?!? Parece que só leríamos como que frisado este fato através da inserção de expressões peculiares: mundo e mundo ambiente (meio ambiente). (GA29-30PT:249-250)