Fink (1994b:126) – pensar

destaque

(…) A intencionalidade é a palavra-chave de Husserl para a relação sujeito-objeto. Por mais concreta que seja a dimensão desta relação, por mais diferenciada que seja a forma como é utilizada, nunca é a única forma de ser. O mundo é mais original do que qualquer ser, qualquer objeto ou sujeito. O pensamento é, na sua verdadeira essência, a abertura do homem ao mundo. Isto pode ser entendido como uma afirmação arbitrária. A aparência de arbitrariedade acentua-se ainda mais se pensarmos nos muitos significados de “pensamento”. Por exemplo, pensamos em acontecimentos cujo significado não é claro para nós; ou pensamos quando planejamos algo; pensamos quando formulamos proposições na linguagem, ou quando fazemos matemática. E assim por diante. O mesmo pensamento diz respeito ao ser, às coisas, às experiências, aos números. No entanto, este pensamento (Be-denken) sobre o ser só é possível na sua posterioridade porque o que uma coisa é em geral já foi pensado antecipadamente. Este pensamento prévio é um pensamento num sentido mais essencial. Não pensamos pensamentos apriorísticos na nossa vida quotidiana habitual; movemo-nos neles como se fossem uma herança tradicional. Os fundadores (Stifter) de tais legados são os pensadores. Eles concebem (erdenken) a estrutura do ente como tal. Há muito que se chama a isto “metafísica”. Mais essencial e mais próprio, no entanto, é o pensamento, onde se pensa para além das coisas finitas no todo do ser. O ser ele mesmo é o que é pensado em todo o pensamento, se tomarmos como válidas as palavras de Parmênides: “o ser e o pensar são o mesmo”. O ser em si não é o universal que flutua no vago (verschwebend), é o espaço-tempo do mundo, que inclui todos os entes.

Kessler

[FINK, Eugen. Proximité et distance: essais et conférences phénoménologiques. Tr. Jean Kessler. Grenoble: Jérôme Millon, 1994, p. 126]

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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