As estelas, caras a Victor Segalen, estão para as instalações na mesma relação que a techne vis-à-vis a técnica 1.
“Das Gestell”, a palavra com que Heidegger procura exprimir o movimento vivo e mutável da nossa técnica, esta palavra fala com toda a clareza. É, à partida, uma palavra da linguagem quotidiana (onde designa toda a espécie de conjuntos obtidos pela junção de elementos destinados a serem estruturados para formar: um quadro, um suporte, um chassis). Mas ela fala por si só pela sua composição. O prefixo ge-, presente em toda a parte nas línguas germânicas, denota um tipo de unidade notável, aquela que resulta do facto de algo se juntar — o quê, neste caso? Bem, o que o radical verbal indica. Como já vimos, a raiz verbal — stell, stellen — denota uma forma muito específica de pôr: pôr na vertical, dispor em relação à verticalidade.
Parece que não dispomos de um termo francês em que este aspecto surja como componente primordial. Mas há uma palavra em que a grande característica importante para Heidegger surge quase por si mesma. É a nossa palavra: “consumo” — desde que, no entanto, a tomemos na direção oposta ao seu significado habitual (o consumo de energia). Se nos concentrarmos no significado forte da palavra “soma”, podemos ouvi-lo dizer: a variedade multifacetada de somas em que a humanidade planetária se encontra agora convocada para não visar nada (a começar por si própria) [78] que não seja a face sumária da totalidade. Estamos claramente no centro da questão assim que vemos o consumo, tal como acabámos de o identificar, como o motor da detenção.
Na sua carta, Jean Beaufret não diz uma palavra sobre esta totalização. Isto porque ele precisa de se colocar uma outra questão: de onde vem a convocação para colocar, para dispor, para instalar, que conduz a técnica como se fosse a sua casa? Temos de ser duplamente cuidadosos, porque perguntar de onde vem — apesar das aparências — não é de modo algum perguntar sobre uma “origem” (esta palavra ainda entendida no sentido habitual). Não se trata de perguntar qual a proveniência da técnica, mas: ser/estar junto a questionar seu acontecimento [Ereignis].
[FÉDIER, François. Entendre Heidegger et autres exercices d’écoute. Paris: Pocket, 2013]- Esta observação, insisto, é feita sem ironia ou segundas intenções. As instalações contemporâneas correspondem simplesmente ao que é a nossa era do mundo, nada mais e nada menos[↩]