Fédier (2010:156-157) – temporalizar [Zeitigen]

tradução

Voltemos atrás. Dissemos: as coisas são independentes do homem. Quer existam homens ou não, existem baleias, existem florestas cheias de vida, etc.

Mas esta independência não é como tal. Tem de ser suportada e compreendida para acabar por ser independente enquanto tal. Se não houver seres humanos, a independência das coisas em relação aos seres humanos é simplesmente absurda — como a espantosa faca de Lichtenberg sem lâmina e sem cabo.

Sem o Dasein, não há independência (das coisas) enquanto tal. Uma das formas mais marcantes desta independência é a diferença no sentido de ser-no-tempo (156) se estivermos a falar de: 1°) um ser humano; 2°) uma coisa.

O Dasein, diz Heidegger, “temporaliza o seu ser como tempo”. Em alemão (um alemão tosco para dizer o mínimo): “Das Dasein zeitigt qua Zeit sein Sein.” Zeitigen significa levar à maturidade, amadurecer — entendamos assim “temporalizar”. O Dasein amadurece o seu ser como tempo, temporaliza o seu ser configurando-o como tempo. O tempo não é como as coisas são. Para as coisas, ser-no-tempo (como Aristóteles claramente revelou) é: ser medido pelo tempo.

Para o Dasein, ser no tempo é estar ek-staticamente confrontado com a distância sempre decrescente do futuro, por exemplo, ou confrontado com a duração do tempo em espera. Ser no tempo, para o Dasein, é ser temporâneo (sem temporâneos, como poderia haver contemporâneos) e mortal (deixando de lado, por agora, a possível ligação entre temporâneo e mortal…).

[A parte: ser temporâneo, ser no tempo. Deixemo-nos aprender por nossa língua: “estar no banho” não é a mesma coisa que “estar num banho”].

Original

[FÉDIER, François. Le temps et le monde: de Heidegger à Aristote. Paris: Pocket, 2010]

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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