Gewißsein, Gewisssein
Estar-certo de um ente significa: ter por verdadeiro enquanto verdadeiro. Todavia, verdade significa descoberta de um ente. Toda descoberta funda-se, ontologicamente, na verdade mais originária, a saber, na abertura da presença [Dasein]. Enquanto ente aberto – que abre e descobre, a presença [Dasein] está essencialmente “na verdade”. A certeza, porém, ou está fundada na verdade ou a ela pertence de modo igualmente originário. Assim como o termo “verdade”, a expressão “certeza” possui um duplo significado. Originariamente, verdade diz a atitude descobridora da presença [Dasein]. O significado aqui derivado é o de descoberta dos entes. De modo correspondente, a certeza significa, originariamente, um modo de ser da presença [Dasein], ou seja, o estar-certo. Em sentido derivado, também o ente do qual a presença [Dasein] pode ter certeza é chamado de “certo”. [SZ:256; STMSCC:332]
[…] E onde se encontra o fundamento do estar-certo cotidiano? Manifestamente ele não reside numa persuasão recíproca. […] [SZ:257; STMSCC:333]
Com o fenômeno da decisão [Entschlossenheit], colocamo-nos diante da verdade originária da existência [ursprüngliche Wahrheit der Existenz]. Decidida [Entschlossen], a presença [Dasein] se desvela para si mesma em seu poder-ser fático [jeweiligen faktischen Seinkönnen enthüllt], de maneira a ser este desvelar e estar desvelado [Enthüllen und Enthülltsein]. Pertence à verdade um ter-por-verdadeiro [Für-wahr-halten], que sempre lhe corresponde. O ser e estar-certo é a apropriação explícita do que se abriu e se descobriu [Die ausdrückliche Zueignung des Erschlossenen bzw. Entdeckten ist das Gewißsein]. A verdade originária da existência exige um estar-certo igualmente originário, no sentido de ater-se ao que a decisão lhe abre. Ela dá a si a situação fática e nela se coloca [Sie gibt sich die jeweilige faktische Situation und bringt sich in sie]. A situação não pode ser antecipadamente calculada ou prevista como algo simplesmente dado, que espera por sua apreensão. Ela só se abre numa decisão livre, previamente indeterminada mas aberta a determinações. O que significa a certeza inerente a tal decisão? Ela deve ater-se ao que se abriu na decisão. Isso significa, porém, que ela não pode enrijecer-se na situação mas deve compreender que, de acordo com o seu sentido próprio de abertura, a decisão deve manter-se aberta e livre para as possibilidades fáticas. A certeza da decisão significa: manter-se livre para o seu reassumir possível e faticamente necessário. Esse ter-por-verdadeiro da decisão (enquanto verdade da existência) não permite, em absoluto, recair na indecisão [Unentschlossenheit]. Ao contrário, enquanto manter-se livre na decisão para reassumir, este ter-por-verdadeiro é decidir com propriedade pela retomada de si mesmo. Com isso, enterra-se justamente a perdição existenciária [existenziell] na indecisão. O ter-por-verdadeiro inerente à decisão tende, de acordo com seu sentido, a manter-se constantemente livre, ou seja, para todo o poder-ser da presença [Dasein]. Essa certeza insistente só confirma a decisão quando se atém à possibilidade da qual ela pode ser e estar absolutamente certa. Em sua morte, a presença [Dasein] deve, pura e simplesmente, “reassumir-se”. Estando constantemente certa dela, isto é, antecipando-a, a decisão conquista sua certeza própria e total. [SZ:307-308; STMSCC:390-391]