Já a passagem citada de Leibniz trai o parentesco entre problema do “fundamento” e problema do ser. Verum esse significa inesse qua idem esse. Verum esse – Ser verdadeiro, porém, significa ao mesmo tempo ser “na verdade” – esse simplesmente. Então, a ideia de ser em geral é interpretada por inesse qua idem esse. O que torna um ens um ens é a “identidade”, a unidade bem entendida, que, enquanto simples, unifica originariamente e, neste unificar, simultaneamente individua. A unificação que originaria (antecipando) e simplesmente individua, que constitui a essência do ente enquanto tal, é, porém, a essência da “subjetividade” do subjectum (substancialidade da substância) monadologicamente entendida. A dedução leibniziana do principiam rationis da essência da verdade proposicional revela, desta maneira, que tem por fundamento uma ideia bem determinada de ser em geral, a cuja luz somente é possível aquela “dedução”. Apenas na metafísica de Kant mostra-se realmente a conexão entre “fundamento” e “ser”. Não há dúvida que em seus escritos “críticos” se estaria praticamente inclinado a afirmar a falta de um tratamento expresso do “princípio da razão; a não ser que se faça valer a prova da segunda analogia como compensação para esta falta quase incompreensível. Mas Kant certamente discutiu o princípio da razão e, numa passagem excelente de sua Crítica da Razão Pura, sob o título de “Supremo princípio de todos os juízos sintéticos”, dá notável indicação de investigações que ainda se deveriam realizar na metafísica. [Cf. Heidegger, Kant e o Problema da Metafísica, 1929. (N. do A.)] Este princípio explica o que em geral – no âmbito e ao nível do questionamento ontológico de Kant – faz parte do ser do ente, que é acessível na experiência. Kant dá neste princípio uma definição real da verdade transcendental, isto é, determina sua possibilidade intenda através da unidade do tempo, força da imaginação e “Eu penso”. [Cf. Kant, Sobre uma descoberta, segundo a qual toda a nova crítica da razão pura deverá tornar-se dispensável atrav6 da mais antiga, 1790, consideração final sobre as três importantes características da metafísica do senhor Von Leibniz. Cf. também a obra premiada sobre os progressos da metafísica, Parte I. (N. do A.)] O que Kant diz do princípio vale, por sua vez, para seu próprio princípio supremo de todo conhecimento sintético, na medida em que nele se oculta o problema da conexão essencial de ser, verdade e fundamento. Uma questão que apenas disso pode ser derivada é, então aquela que trata da relação originária de lógica formal e transcendental, respectivamente, o direito de uma tal distinção em geral. SOBRE A ESSÊNCIA DO FUNDAMENTO
Ninguém irá subtrair-se ao evidente acerto destas objeções. Ninguém poderá desprezar levianamente a urgência e gravidade delas. Mas que se exprime nestas objeções? O simples “bom senso”. Ele teima em sustentar as exigências do imediatamente útil e se revolta contra o saber que se refere à essência do ente, saber fundamental que, já há muito tempo, traz o nome de “filosofia”. SOBRE A ESSÊNCIA DA VERDADE
A par com o desenvolvimento critico da essência do entendimento caminha a limitação de seu uso, limitação que o restringe à determinação daquilo que é dado através da intuição sensível e das puras formas. De maneira inversa, a restrição do uso do entendimento à experiência abre, ao mesmo tempo, o caminho para uma determinação mais originária da essência do próprio entendimento. O que foi posto na posição é o posto de um dado, que por sua vez, através do pôr e do colocar, se transforma, para este ato, em o-posto, ob-stante, jogado-ao-encontro, objeto. O que tem caráter de ser posto (posição), quer dizer, o ser, se transforma em objetividade. Mesmo quando Kant, na Crítica da Razão Pura, ainda fala de coisa, como, por exemplo, na enunciação afirmativa de sua tese sobre o ser, a “coisa” sempre significa: ob-stante, ob-jeto, no sentido mais amplo de algo que é representado, do X. Em conformidade com isto, diz Kant, no prefácio da segunda edição da Crítica da Razão Pura (B XXVII), que a critica “nos ensina a tomar o objeto em dois sentidos, a saber, como fenômeno, ou como coisa em si mesma”. A TESE DE KANT SOBRE O SER
Postulados são exigências. Quem ou o que exige e para que se exige? Enquanto “postulados do pensamento empírico em geral”, eles são exigidos por este próprio pensamento, a partir de sua fonte, a partir da essência do entendimento, e isto para tornar possível a posição do que dá a percepção sensível, por conseguinte, para tornar possível a ligação da existência, isto é, da atualidade da multiplicidade dos fenômenos. O atual é sempre o atual dum possível, e o fato de ser atual aponta, em última análise, para um necessário. “Os postulados do pensamento empírico em geral” são princípios pelos quais se esclarece ser-possível, ser-atual, sernecessário na medida em que se determina, através disso, a existência do objeto da experiência: O primeiro postulado se enuncia: “O que concorda com as condições formais da experiência (conforme a intuição e os conceitos) é possível”. O segundo postulado se enuncia: “O que está em conexão com as condições materiais da experiência (da sensação) é atual”. O terceiro postulado se enuncia: “Aquilo cuja conexão com o atual é determinado segundo as condições gerais da experiência é (existe) necessário”. A TESE DE KANT SOBRE O SER