Mitvorhandensein, »Mit«-Vorhandenseins
O que diz ser-em? De saída, completamos a expressão, dizendo: ser “em um mundo” e nos vemos tentados a compreender o ser-em como um estar “dentro de…”. Com esta última expressão, designamos o modo de ser de um ente que está num outro, como a água está no copo, a roupa no armário. Com este “dentro” indicamos a relação recíproca de ser de dois entes extensos “dentro” do espaço, no tocante a seu lugar neste mesmo espaço. Água e copo, roupa e armário estão igualmente “dentro” do espaço “em” um lugar. Esta relação de ser pode ampliar-se, por exemplo: o banco na sala de aula, a sala na universidade, a universidade na cidade e assim por diante até: o banco “dentro do espaço cósmico”. Esses entes, que podem ser determinados como estando um “dentro” do outro, têm o mesmo modo de ser do que é simplesmente dado, como coisa que ocorre “dentro” do mundo. Ser simplesmente dado “dentro” do que está dado, o ser simplesmente dado junto com algo dotado do mesmo modo de ser [das Mitvorhandensein mit etwas von der selben Seinsart], no sentido de uma determinada relação de lugar, são caracteres ontológicos que chamamos de categoriais. Tais caracteres pertencem ao ente não dotado do modo de ser da presença [Dasein]. STMSC: §12
A caracterização do encontro com os outros também se orienta segundo a própria presença [Dasein]. Será que essa caracterização não provém de uma distinção e isolamento do “eu”, de maneira que se devesse buscar uma passagem do sujeito isolado para os outros? Para evitar esse mal-entendido, é preciso atentar em que sentido se fala aqui dos “outros”. Os “outros” não significam todo o resto dos demais além de mim, do qual o eu se isolaria. Os outros, ao contrário, são aqueles dos quais, na maior parte das vezes, não se consegue propriamente diferenciar, são aqueles entre os quais também se está. Esse estar também com os outros não possui o caráter ontológico de um SER SIMPLESMENTE DADO “EM CONJUNTO” [»Mit«-Vorhandenseins] dentro de um mundo. O “com” é uma determinação da presença [Dasein]. O “também” significa a igualdade no ser enquanto ser-no-mundo que se ocupa dentro de uma circunvisão. “com” e “também” devem ser entendidos existencialmente e não categorialmente. À base desse ser-no-mundo determinado pelo com, o mundo é sempre o mundo compartilhado com os outros. O mundo da presença [Dasein] é mundo compartilhado. O ser-em é ser-com os outros. O ser-em-si intramundano desses outros é co-presença [Dasein]. STMSC: §26
Essas representações, no entanto, são para ele o “empírico”, o que é “acompanhado” pelo eu, as manifestações (fenômenos) às quais o eu “adere”. Todavia, Kant jamais mostra o modo de ser desse “aderir” e “acompanhar”. No fundo, são compreendidos como o DAR-SE SIMPLESMENTE DO EU EM CONJUNTO COM AS SUAS REPRESENTAÇÕES [ständiges Mitvorhandensein des Ich mit seinen Vorstellungen]. Kant, sem dúvida, evita separar o eu do pensar sem, no entanto, colocar como ponto de partida do “eu penso” o “eu penso alguma coisa” e, sobretudo, sem ver {CH: isto é, a temporalidade} na determinação fundamental do si-mesmo a “pressuposição ontológica” do “eu penso alguma coisa”. Ontologicamente, o ponto de partida do “eu penso alguma coisa” é também subdeterminado na medida em que o “alguma coisa” permanece indeterminado. Se, por alguma coisa, compreende-se um ente intramundano, então pressupõe-se, implicitamente, o mundo; e exatamente esse fenômeno é que também determina a constituição ontológica do eu, caso deva ser possível o “eu penso alguma coisa”. O dizer-eu significa o ente que eu sempre sou enquanto “eu-sou-e-estou-no-mundo”. Kant não viu o fenômeno do mundo e foi suficientemente consequente ao afastar as “representações” do conteúdo a priori do “eu penso”. Mas, com isso, o eu foi forçado, novamente, a ser um sujeito isolado, que acompanha, de forma ontologicamente indeterminada, as “representações”. STMSC: §64