εἶναι
Mas para captar o que era o ser na sua primeira destinação, não temos outro recurso senão o de nos esforçarmos por percorrer os territórios onde se dizia o ser (Sein), quer dizer as palavras fundamentais dos primeiros pensadores (anfängliche Denker). Entre estas palavras, o recurso imediato à palavra εἶναι (einai), ou até à palavra ἐόν (eon) entendida verbalmente, ser-nos-ia de pouca utilidade. Porque se sabemos muito bem que ser traduz εἶναι, não sabemos justamente o que os gregos pensavam, e ainda menos aquilo que experimentavam, quando diziam ou escreviam εἶναι (Nota): muito longe de ser uma resposta ou uma solução, εἶναι é o próprio nome da questão, a «palavra-enigma» por excelência. Como clarificar este enigma?
Nota: Cf. WiM, Einl. (GA9), Wgm (GA5), p. 205 (Qu. I, 37 (Q12)): «Que dizemos quando, em lugar de εἶναι, dizemos «ser», e em lugar de «ser» εἶναι e esse? Não dizemos nada. Quer seja grega, latina ou alemã, a palavra conserva-se igualmente obscura». Cf também Hzw (GA9), p. 308 (273).
(…)
Isto leva-nos a formular uma primeira observação a respeito da abordagem heideggeriana do ser. «Ser» não está de modo algum fechado num vocábulo único, ao qual seria preciso, de certa maneira, obrigar a mostrar o seu segredo: é «a palavra (Wort) de todas as palavras» (GA55:82), que é preciso procurar em todos os lugares da língua (Sprache). Se não nos podemos aproximar do enigma do εἶναι, quer dizer do mistério do que era pensado ou experimentado nele, sem apelar para todas as outras palavras essenciais, não é de modo algum porque estas nos diriam «outra coisa», mas precisamente porque não podem dizermos senão o «mesmo», nas suas diferentes modalidades. Porque não seriam palavras e, falando com propriedade, não diriam «nada» se não dissessem primeiramente e acima de tudo o ser, esse ser que sustenta o conjunto da língua e que se aclara nela. São estas múltiplas «palavras do ser» que nos propomos estudar, a começar pela primeiríssima de entre elas, aquela que, porque é a palavra-chave do pensamento inicial, só pode também dizer a essência do ser, na mais matinal das ocasiões em que foi experimentado: a palavra φύσις (physis). (MZHPO)