Dreyfus (1991:6) – desprendimento e objetividade

4. Desprendimento e objetividade. Herdamos dos gregos não apenas a suposição de que podemos obter conhecimento teórico de todos os domínios, até mesmo das atividades humanas, mas também a suposição de que o ponto de vista teórico distanciado é superior ao ponto de vista prático envolvido. De acordo com a tradição filosófica, seja ela racionalista ou empirista, é somente por meio da contemplação independente que descobrimos a realidade. Desde a dialética teórica de Platão, que afasta a mente do mundo cotidiano das “sombras”, passando pela preparação de Descartes para a filosofia, fechando-se em uma sala quente, onde fica livre do envolvimento e da paixão, até as estranhas descobertas analíticas de Hume em seu estudo, que ele esquece quando sai para jogar bilhar, os filósofos supõem que somente se afastando das preocupações práticas cotidianas antes de descrever as coisas e as pessoas é que eles podem descobrir como as coisas realmente são.

Os pragmatistas questionaram essa visão e, nesse sentido, Heidegger pode ser visto como uma radicalização das percepções já contidas nos escritos de pragmatistas como Nietzsche, Peirce, James e Dewey. Heidegger, juntamente com seu colega Georg Lukacs, muito provavelmente foi exposto ao pragmatismo americano por meio de Emil Lask.1 [DREYFUS, Hubert L. Being-in-the-World: A Commentary on Heidegger’s Being and Time, Division I. Massachusetts: The MIT Press, 1991]

  1. Hans-Georg Gadamer suggested this to me. Heidegger thanks Lask for the insight that our categories correspond to functions that “stem from the use of expressions in living thought and knowing” (GA1, 227). He mentions pragmatism and supports its relativizing of knowledge structures to ways of life in his 1921 lectures (GA61, 135).[]