A dimensão performativa do pensamento de Heidegger é já percetível nos seus primeiros escritos. É inseparável do projeto de uma “hermenêutica da facticidade” (que é o título de um curso de 1923 publicado como GA63 [1988] e traduzido como Heidegger, Ontologia: Hermenêutica da Facticidade) — isto é, de uma compreensão da existência que permanece inerente à realização ([?Vollzug]) da existência, e é esta relação não-objectivizável de realização e tempo ([?kairos] em vez de [?chronos]) que Heidegger, tomando um termo de Dilthey e Yorck von Wartenburg, chamará [?Geschichtlichkeit], historicidade. Esta é a razão pela qual em Ser e Tempo a tematização da questão do ser não tem o sentido de uma objetivação reflexiva, mas apenas de uma expressão, uma Ausdrücklichmachen. A fenomenologia, ao tornar-se hermenêutica, rompe com a reflexividade da [?Auslegung] husserliana e com o estatuto de “espectador desinteressado” que a fenomenologia husserliana reserva ao filósofo.
[DASTUR, F. Questions of Phenomenology: Language, Alterity, Temporality, Finitude. Robert Vallier. New York: Fordham University Press, 2017]