Dastur (1998:125-127) – “mundo” logo após Ser e Tempo (2)

detalhe

Mas a superação da concepção transcendental do mundo não significa a supressão da capacidade projetiva do Dasein, mas antes a sua subordinação ao acontecimento primordial da abertura do mundo em que o Dasein se encontra. Para Heidegger, o problema não é tanto inverter o modo de pensar transcendental, atribuindo ao mundo o papel ativo que até então cabia ao Dasein, mas pensar na sua intimidade a identidade do mundo e do Dasein, de modo a que não haja duas instâncias separadas ligadas entre si por uma relação causal, mas um único “acontecimento”. O mundo já não é o resultado da projeção do Dasein, mas abre-se primordialmente como a clareira em relação à qual este Dasein ek-siste. Na Carta sobre o Humanismo, Heidegger começa, de fato, a escrever o termo existência de uma nova forma, para indicar que a ek-sistência já não é entendida como a projeção transcendental do mundo, mas como a resistência (Ausstehen) da abertura do ser, de modo que já não pode ser considerada como a contrapartida da imanência de um sujeito, mas, pelo contrário, como o fato de o Dasein se manter aberto para a abertura do ser 1. Isto implica uma radicalização da facticidade do ser-lançado, que passa a ser entendido como proveniente do próprio ser. De fato, Heidegger afirma explicitamente na Carta sobre o humanismo que “o que lança no projetar não é o homem, mas o próprio ser, que destina o homem à ek-sistência do ser-o-aí como sua essência” 2. A passividade da existência é agora entendida como o destino e a história do próprio ser, de modo que a abertura do mundo já não ocorre através do Dasein, mas para ele.

original

  1. Cf. Introdução de 1949 a “O que é a metafísica” em Questões I, op. cit., p. 34, p. 34.[↩]
  2. LH, p. 95.[↩][↩]
  3. Vom Wesen des Grundes, op. cit, 1955, p. 39 ; trad. op. cit, p. 135.[↩]
  4. Ibid. On peut certes ici entendre le « lassen » — comme l’ambiguïté de ce terme le permet en allemand — comme un faire, et ce d’autant plus que Heidegger précise que le Dasein se donne avec le monde la préfiguration (Vor-bild) de tout étant manifeste. Que la configuration du monde soit alors comprise par Heidegger de manière transcendantale n’est cependant pas incompatible, comme nous le verrons, avec la reconnaissance d’une essentielle « passivité » du Dasein.[↩]
  5. SZ, § 29, p. 137.[↩]
  6. Fink, op. cit., p. 154.[↩]
  7. Ibid., p. 183.[↩]
  8. Cf. M. Heidegger, De l’essence de la liberté humaine, (t. 31 de l’édition complète), Paris, Gallimard, 1987.[↩]
  9. Cf. Introduction de 1949 à « Qu’est-ce que la métaphysique ? » in Questions I, op. cit., p. 34.[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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