Em qual dos entes deve-se {CH: duas questões distintas se justapõem aqui; isso dá motivo para um mal-entendido, sobretudo com referência ao papel da PRESENÇA [DASEIN]} ler o sentido de ser? STMSC: §2
Exemplar é a PRESENÇA [DASEIN] porque ela é o jogo de apreensão que, em sua essência como PRESENÇA [DASEIN] (resguardando a verdade do ser), o ser como tal joga e articula – porque o ser como tal põe no jogo de sua ressonância.} STMSC: §2
Designamos com o termo PRESENÇA [DASEIN] esse ente que cada um de nós mesmos sempre somos e que, entre outras coisas, possui em seu ser a possibilidade de questionar. STMSC: §2
A colocação explícita e transparente da questão sobre o sentido do ser requer uma explicação prévia e adequada de um ente (da PRESENÇA [DASEIN]) no tocante a seu ser {CH: mas o sentido de ser não é derivado desse ente}. STMSC: §2
Essa visualização de ser, orientadora do questionamento, nasce da compreensão mediana de ser em que nos movemos desde sempre e que, em última instância {CH: isto é, desde o princípio}, pertence à própria constituição essencial da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §2
Isso, porém, significa apenas que o ente, dotado do caráter da PRESENÇA [DASEIN], traz em si mesmo uma remissão talvez até privilegiada à questão do ser. STMSC: §2
No que se discutiu até aqui nem se provou o primado da PRESENÇA [DASEIN] e nem se decidiu nada sobre uma função possível ou necessária do ente a ser interrogado como o primeiro. STMSC: §2
O que se insinuou foi apenas um primado da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §2
Apreendemos terminologicamente esse ente como PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §4
Ademais, se comparada a qualquer outro, a PRESENÇA [DASEIN] é um ente privilegiado. STMSC: §4
A PRESENÇA [DASEIN] não é apenas um ente que ocorre entre outros entes. STMSC: §4
Mas também pertence a essa constituição de ser da PRESENÇA [DASEIN] a característica de, em seu ser, isto é, sendo, estabelecer uma relação de ser com seu próprio ser. STMSC: §4
Isso significa, explicitamente e de alguma maneira, que a PRESENÇA [DASEIN] se compreende em seu ser, isto é, sendo. STMSC: §4
A compreensão de ser é em si mesma uma determinação de ser da PRESENÇA [DASEIN] {CH: ser aqui não apenas como ser do homem (existência). STMSC: §4
O privilégio ôntico que distingue a PRESENÇA [DASEIN] está em ela ser ontológica. STMSC: §4
Por isso, se reservarmos o termo ontologia para designar o questionamento teórico explícito do sentido de ser, então deve-se chamar este ser-ontológico da PRESENÇA [DASEIN] de pré-ontológico. STMSC: §4
Chamamos existência ao {CH: para aquele} próprio ser com o qual {CH: enquanto seu próprio} a PRESENÇA [DASEIN] pode relacionar-se dessa ou daquela maneira e com o qual ela sempre se relaciona de alguma maneira. STMSC: §4
Como a determinação essencial desse ente não pode ser efetuada mediante a indicação de um conteúdo quididativo, já que sua essência reside, ao contrário, em sempre ter de possuir o próprio ser como seu, escolheu-se o termo PRESENÇA [DASEIN] para designá-lo enquanto pura expressão de ser. STMSC: §4
A PRESENÇA [DASEIN] sempre se compreende a si mesma a partir de sua existência, de uma possibilidade própria de ser ou não ser ela mesma. STMSC: §4
Essas possibilidades a própria PRESENÇA [DASEIN] as escolheu, mergulhou nelas ou ali simplesmente cresceu. STMSC: §4
No modo de assumir-se ou perder-se, a existência só se decide a partir de cada PRESENÇA [DASEIN] em si mesma. STMSC: §4
A questão da existência é um “assunto” ôntico da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §4
Em sua possibilidade e necessidade, a tarefa de uma analítica existencial da PRESENÇA [DASEIN] já se acha prelineada na constituição ôntica da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §4
À medida, porém, que a existência determina a PRESENÇA [DASEIN], a analítica ontológica desse ente sempre necessita de uma visualização prévia da existencialidade. STMSC: §4
Desse modo, a possibilidade de se realizar uma analítica da PRESENÇA [DASEIN] sempre depende de uma elaboração prévia da questão sobre o sentido de ser em geral. STMSC: §4
As ciências são modos de ser da PRESENÇA [DASEIN], nos quais ela também se relaciona com entes que ela mesma não precisa ser. STMSC: §4
Pertence, porém, essencialmente à PRESENÇA [DASEIN]: ser em um mundo. STMSC: §4
Assim, a compreensão de ser, própria da PRESENÇA [DASEIN], inclui, de maneira igualmente originária, a compreensão de “mundo” e a compreensão do ser dos entes que se tornam acessíveis dentro do mundo. STMSC: §4
Dessa maneira, as ontologias que possuem por tema os entes desprovidos do modo de ser da PRESENÇA [DASEIN] se fundam e motivam na estrutura ôntica da própria PRESENÇA [DASEIN], que acolhe em si a determinação de uma compreensão pré-ontológica de ser. STMSC: §4
É por isso que se deve procurar, na analítica existencial da PRESENÇA [DASEIN], a ontologia fundamental de onde todas as demais podem originar-se. STMSC: §4
Em consequência, a PRESENÇA [DASEIN] possui um primado múltiplo frente a todos os outros entes. STMSC: §4
O primeiro é um primado ôntico: a PRESENÇA [DASEIN] é um ente determinado em seu ser pela existência. STMSC: §4
O segundo é um primado ontológico: com base em sua determinação de existência, a PRESENÇA [DASEIN] é em si mesma “ontológica”. STMSC: §4
Pertence à PRESENÇA [DASEIN], de maneira igualmente originária, e enquanto constitutiva da compreensão da existência, uma compreensão do ser de todos os entes que não possuem o modo de ser da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §4
A PRESENÇA [DASEIN] tem, por conseguinte, um terceiro primado, que é a condição ôntico-ontológica da possibilidade de todas as ontologias. STMSC: §4
Desse modo, a PRESENÇA [DASEIN] se mostra como o ente que, ontologicamente, deve ser o primeiro interrogado, antes de qualquer outro. STMSC: §4
Só existe a possibilidade de uma abertura da existencialidade da existência, e com isso a possibilidade de se captar qualquer problemática ontológica suficientemente fundamentada, caso se assuma existenciariamente o próprio questionamento da investigação filosófica como uma possibilidade de ser da PRESENÇA [DASEIN], sempre existente. STMSC: §4
Já cedo percebeu-se o primado ôntico-ontológico da PRESENÇA [DASEIN], embora não se tenha apreendido a PRESENÇA [DASEIN] em sua estrutura ontológica genuína nem se tenha problematizado a PRESENÇA [DASEIN] nesse sentido. STMSC: §4
O primado da PRESENÇA [DASEIN] frente a qualquer outro ente que aqui se apresenta, embora ainda não esclarecido do ponto de vista ontológico, nada tem em comum com uma má subjetivação da totalidade dos entes. STMSC: §4
A comprovação do privilégio ôntico-ontológico da questão do ser funda-se na indicação provisória do primado ôntico-ontológico da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §4
A PRESENÇA [DASEIN] mostrou-se, assim, como o ente que deve ser trabalhado e desenvolvido em seu ser de maneira suficiente para que o questionamento se torne transparente. STMSC: §4
Agora, porém, revelou-se que a analítica ontológica da PRESENÇA [DASEIN] em geral constitui a ontologia fundamental e que, portanto, a PRESENÇA [DASEIN] se evidencia como o ente a ser, em princípio, previamente interrogado em seu ser. STMSC: §4
Quando a interpretação do sentido de ser torna-se uma tarefa, a PRESENÇA [DASEIN] não é apenas o ente a ser interrogado primeiro. STMSC: §4
A questão do ser não é senão a radicalização de uma tendência ontológica essencial, própria da PRESENÇA [DASEIN], a saber, da compreensão pré-ontológica de ser. STMSC: §4
A analítica ontológica da PRESENÇA [DASEIN] como liberação do horizonte para uma interpretação do sentido de ser em geral Ao caracterizar as tarefas incluídas na “colocação” da questão do ser, mostrou-se que não somente é necessário fixar o ente que deve funcionar como o primeiro a ser interrogado, mas que também se deve apropriar e assegurar explicitamente o modo adequado de se aproximar desse ente. STMSC: §5
Mas como é que esse ente, a PRESENÇA [DASEIN], haverá de se tornar acessível e deverá ser encarado numa compreensão interpretativa? STMSC: §5
O primado ôntico-ontológico, demonstrado para a PRESENÇA [DASEIN], poderia induzir a se pensar que esse ente é também o primeiro do ponto de vista ôntico-ontológico. STMSC: §5
Na verdade, a PRESENÇA [DASEIN] não somente está onticamente próxima ou é o mais próximo. STMSC: §5
Ao contrário, de acordo com um modo de ser que lhe é constitutivo, a PRESENÇA [DASEIN] tem a tendência de compreender seu próprio ser a partir daquele ente com quem ela se relaciona e se comporta de modo essencial, primeira e constantemente, a saber, a partir do “mundo” {CH: isto é, aqui, a partir do que é simplesmente dado}. STMSC: §5
Na própria PRESENÇA [DASEIN] e, assim, em sua compreensão de ser, reside o que ainda demonstraremos como reflexo ontológico da compreensão de mundo sobre a interpretação da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §5
Que a sua constituição específica de ser – entendida no sentido de uma estrutura “categorial” própria – permaneça encoberta para a PRESENÇA [DASEIN], isso deve-se ao primado ôntico-ontológico da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §5
Onticamente, a PRESENÇA [DASEIN] é o que está “mais próximo” de si mesma; ontologicamente, o que está mais distante; pré-ontologicamente, porém, a PRESENÇA [DASEIN] não é estranha para si mesma. STMSC: §5
Com isso, indica-se, apenas e de maneira provisória, que uma interpretação da PRESENÇA [DASEIN] se depara com dificuldades específicas. STMSC: §5
A PRESENÇA [DASEIN] sempre dispõe de uma rica e variada interpretação de si mesma, à medida que uma compreensão de ser não apenas lhe pertence, como já se formou ou deformou em cada um de seus modos de ser. STMSC: §5
Seguindo caminhos diversos e em extensões diferentes, a psicologia filosófica, a antropologia, a ética, a “política”, a poesia, a biografia e historiografia já pesquisaram as atitudes, potências, forças, possibilidades e envios da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §5
Somente depois de se elaborar, de modo suficiente, as estruturas da PRESENÇA [DASEIN], seguindo uma orientação explícita do problema de ser, é que os resultados obtidos até aqui poderão receber uma justificação existencial. STMSC: §5
Uma analítica da PRESENÇA [DASEIN] constitui, portanto, o primeiro desafio no questionamento da questão do ser. STMSC: §5
Assim, torna-se premente o problema de como se deve alcançar e garantir a via de acesso à PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §5
Nem se devem impor à PRESENÇA [DASEIN] “categorias” delineadas por tal ideia. STMSC: §5
Elas têm de mostrar a PRESENÇA [DASEIN] tal como ela é antes de tudo e na maioria das vezes, em sua cotidianidade mediana. STMSC: §5
Essenciais são as estruturas que se mantêm ontologicamente determinantes em todo modo de ser da PRESENÇA [DASEIN] fática. STMSC: §5
Do ponto de vista da constituição fundamental da cotidianidade da PRESENÇA [DASEIN], poder-se-á, então, colocar em relevo o ser desse ente. STMSC: §5
A analítica da PRESENÇA [DASEIN], assim entendida, fica totalmente orientada para a tarefa que guia a elaboração da questão do ser. STMSC: §5
Ela não pretende proporcionar uma ontologia completa da PRESENÇA [DASEIN], como se haveria de pretender caso se estivesse buscando as bases filosóficas suficientes para uma antropologia “filosófica”. STMSC: §5
A análise da PRESENÇA [DASEIN], porém, não é somente incompleta, mas também provisória. STMSC: §5
Uma vez alcançado esse horizonte, a análise preparatória da PRESENÇA [DASEIN] exige uma retomada em bases ontológicas mais elevadas e autênticas. STMSC: §5
A temporalidade (Zeitlichkeit) será demonstrada como o sentido desse ente que chamamos de PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §5
Essa comprovação deve ser afirmada numa retomada da interpretação das estruturas da PRESENÇA [DASEIN] antecipadamente demonstradas como modos da temporalidade. STMSC: §5
Todavia, com essa interpretação da PRESENÇA [DASEIN] enquanto temporalidade ainda não se responde à questão condutora {CH: katholou, kath auto} sobre o sentido do ser. STMSC: §5
Em alguns acenos mostrou-se que, como constituição ôntica, pertence à PRESENÇA [DASEIN] um ser pré-ontológico. STMSC: §5
A PRESENÇA [DASEIN] é de tal modo que, sendo, realiza a compreensão de algo como ser. STMSC: §5
Mantendo-se esse nexo, deve-se mostrar que o tempo é o de onde a PRESENÇA [DASEIN] em geral compreende e interpreta implicitamente o ser. STMSC: §5
Para que isso se evidencie, torna-se necessária uma explicação originária do tempo enquanto horizonte da compreensão de ser a partir da temporalidade, como ser da PRESENÇA [DASEIN], que se perfaz no movimento de compreensão de ser. STMSC: §5
Se, portanto, a resposta à questão do ser oferece o fio condutor da investigação, segue-se, então, que ela só se dará, de modo suficiente, quando se encontrar uma explicação e um esclarecimento acerca do modo específico da ontologia tradicional legada pelo passado, de seus encaminhamentos, de suas questões, de suas respostas e fracassos, como algo necessariamente ligado ao modo de ser da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §5
A tarefa de uma destruição da história da ontologia Toda investigação, e não apenas a investigação que se move no âmbito da questão central do ser, é sempre uma possibilidade ôntica da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §6
O ser da PRESENÇA [DASEIN] tem o seu sentido na temporalidade. STMSC: §6
Esta, por sua vez, é também a condição de possibilidade da historicidade enquanto um modo de ser temporal da própria PRESENÇA [DASEIN], mesmo abstraindo da questão do se e como a PRESENÇA [DASEIN] é um ente “no tempo”. STMSC: §6
Historicidade indica a constituição de ser do “acontecer”, próprio da PRESENÇA [DASEIN] como tal. STMSC: §6
Em seu ser fático, a PRESENÇA [DASEIN] é sempre como e “o que” ela já foi. STMSC: §6
Explicitamente ou não, a PRESENÇA [DASEIN] é sempre o seu passado e não apenas no sentido do passado que sempre arrasta “atrás” de si e, desse modo, possui, como propriedades simplesmente dadas, as experiências passadas que, às vezes, agem e influem sobre a PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §6
A PRESENÇA [DASEIN] “é” o seu passado no modo de seu ser, o que significa, a grosso modo, que ela sempre “acontece” a partir de seu futuro. STMSC: §6
Em cada um de seus modos de ser e, por conseguinte, também em sua compreensão de ser, a PRESENÇA [DASEIN] sempre já nasceu e cresceu dentro de uma interpretação de si mesma, herdada da tradição. STMSC: §6
De certo modo e em certa medida, a PRESENÇA [DASEIN] se compreende a si mesma de imediato a partir da tradição. STMSC: §6
Seu próprio passado, e isso diz sempre o passado de sua “geração”, não segue, mas precede a PRESENÇA [DASEIN], antecipando-lhe os passos. STMSC: §6
Essa historicidade elementar da PRESENÇA [DASEIN] pode permanecer escondida para ela mesma, mas pode também ser descoberta e tornar-se objeto de um cultivo especial. STMSC: §6
A PRESENÇA [DASEIN] pode descobrir a tradição, conservá-la e investigá-la explicitamente. STMSC: §6
Nesse caso, a PRESENÇA [DASEIN] se assume no modo de ser do questionamento e da pesquisa dos fatos historiográficos. STMSC: §6
A história fatual (Historie) ou, mais precisamente, a fatualidade historiográfica só é possível como modo de ser da PRESENÇA [DASEIN] que questiona porque, no fundamento de seu ser, a PRESENÇA [DASEIN] se determina e constitui pela historicidade. STMSC: §6
Se a historicidade fica escondida para a PRESENÇA [DASEIN] e enquanto ela assim permanecer, também se lhe nega a possibilidade de questionar e descobrir fatualmente a história. STMSC: §6
A falta de história fatual (Historie) não é uma prova contra a historicidade da PRESENÇA [DASEIN], mas uma prova a seu favor, enquanto modo deficiente dessa constituição de ser. STMSC: §6
Por outro lado, se a PRESENÇA [DASEIN] tiver apreendido sua possibilidade de não só tornar transparente para si mesma sua existência, mas também de questionar o sentido da existencialidade em si mesma, isto é, de investigar preliminarmente o sentido de ser em geral e, nessa investigação, alertar-se para a historicidade essencial da PRESENÇA [DASEIN], então será inevitável perceber que a questão do ser, apontada em sua necessidade ôntico-ontológica, caracteriza-se em si mesma pela historicidade. STMSC: §6
Segundo seu modo próprio de realização, a saber, a explicação preliminar da PRESENÇA [DASEIN] em sua temporalidade e historicidade, a questão sobre o sentido do ser é levada, a partir de si mesma, a se compreender como questão referente a fatos históricos. STMSC: §6
A interpretação preparatória das estruturas fundamentais da PRESENÇA [DASEIN] em seu modo de ser mais próximo e mediano, no qual ela é antes de tudo histórica, há de revelar o seguinte: a PRESENÇA [DASEIN] não somente tende a decair no mundo em que é e está, e de interpretar a si mesma pela luz que dele emana. STMSC: §6
Justamente com isso, a PRESENÇA [DASEIN] também decai em sua tradição, apreendida de modo mais ou menos explícito. STMSC: §6
O mesmo se pode dizer, em última instância, sobre a compreensão e sua possibilidade de construção, que lança suas raízes no ser mais próprio da PRESENÇA [DASEIN], isto é, no ser ontológico. STMSC: §6
A tradição desarraiga de tal modo a historicidade da PRESENÇA [DASEIN] que ela acaba se movendo apenas no interesse pela multiplicidade e complexidade dos possíveis tipos, correntes, pontos de vista da filosofia, no interior das culturas mais distantes e estranhas. STMSC: §6
A consequência é que, com todo o seu interesse pelos fatos historiográficos e em toda a sua avidez por uma interpretação filologicamente “objetiva”, a PRESENÇA [DASEIN] já não é capaz de compreender as condições mais elementares que possibilitam um retorno positivo ao passado, no sentido de sua apropriação produtiva. STMSC: §6
A ontologia grega e sua história, que ainda hoje determina o aparato conceitual da filosofia, através de muitas filiações e distorções, é uma prova de que a PRESENÇA [DASEIN] se compreende a si mesma e o ser em geral a partir do “mundo”. STMSC: §6
Duas coisas o impediram: em primeiro lugar, a falta da questão do ser e, em íntima conexão com isso, a falta de uma ontologia explícita da PRESENÇA [DASEIN] ou, em terminologia kantiana, a falta de uma analítica prévia das estruturas que integram a subjetividade do sujeito. STMSC: §6
Assumindo a posição ontológica de Descartes, Kant omite algo essencial: uma ontologia da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §6
A problemática da ontologia grega, bem como de toda ontologia, deve ser orientada pela própria PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §6
Tanto em sua definição vulgar como em sua “definição” filosófica, a PRESENÇA [DASEIN], isto é, o ser do homem, caracteriza-se como zoon logon echon, o ser vivo cujo modo de ser é, essencialmente, determinado pela possibilidade de falar. STMSC: §6
Ao esclarecer as tarefas de uma ontologia, surgiu a necessidade de uma ontologia fundamental, que possui como tema a PRESENÇA [DASEIN], isto é, o ente dotado de um privilégio ôntico-ontológico. STMSC: §7
O logos da fenomenologia da PRESENÇA [DASEIN] possui o caráter de hermeneuein. STMSC: §7
Por meio deste hermeneuein anunciam-se o sentido próprio de ser e as estruturas fundamentais de ser que pertencem à PRESENÇA [DASEIN] como compreensão de ser. STMSC: §7
Fenomenologia da PRESENÇA [DASEIN] é hermenêutica no sentido originário da palavra em que se designa o ofício de interpretar. STMSC: §7
Desvendando-se o sentido de ser e as estruturas fundamentais da PRESENÇA [DASEIN] em geral, abre-se o horizonte para qualquer investigação ontológica ulterior dos entes não dotados do caráter de PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §7
A hermenêutica da PRESENÇA [DASEIN] torna-se também uma “hermenêutica” no sentido de elaboração das condições de possibilidade de toda investigação ontológica. STMSC: §7
E, por fim, visto que a PRESENÇA [DASEIN], enquanto ente na possibilidade da existência possui um primado ontológico frente a qualquer outro ente, a hermenêutica da PRESENÇA [DASEIN] como interpretação ontológica de si mesma adquire um terceiro sentido específico – embora primário do ponto de vista filosófico –, o sentido de uma analítica da existencialidade da existência. STMSC: §7
Trata-se de uma hermenêutica que elabora ontologicamente a historicidade da PRESENÇA [DASEIN] como condição ôntica de possibilidade da história fatual. STMSC: §7
Por isso é que, radicada na hermenêutica da PRESENÇA [DASEIN], a metodologia das ciências históricas do espírito só pode receber a denominação de hermenêutica em sentido derivado. STMSC: §7
A transcendência do ser da PRESENÇA [DASEIN] é privilegiada porque nela reside a possibilidade e a necessidade da individuação mais radical. STMSC: §7
A filosofia é uma ontologia fenomenológica e universal que parte da hermenêutica da PRESENÇA [DASEIN], a qual, enquanto analítica da existência {CH: “existência” ontológico-fundamental, isto é, ela própria remetida à verdade de ser, e apenas assim!}, STMSC: §7
O sumário do tratado A questão sobre o sentido de ser é a mais universal e a mais vazia; entretanto, ela abriga igualmente a possibilidade de sua mais aguda singularização em cada PRESENÇA [DASEIN] {CH: propriamente: realização da insistência no pre [das Da]}. STMSC: §8
A universalidade do conceito de ser não contradiz a “especialidade” da investigação, qual seja, a de encaminhar-se, seguindo a interpretação especial de um ente determinado, a PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §8
É na PRESENÇA [DASEIN] que se há de encontrar o horizonte para a compreensão e possível interpretação do ser. STMSC: §8
Em si mesma, porém, a PRESENÇA [DASEIN] é “histórica”, de maneira que o esclarecimento ontológico próprio deste ente torna-se sempre e necessariamente uma interpretação “referida a fatos históricos”. STMSC: §8
A elaboração da questão do ser divide-se, pois, em duas tarefas; a cada uma corresponde a divisão do tratado em duas partes: Primeira parte: A interpretação da PRESENÇA [DASEIN] pela temporalidade e a explicação do tempo como horizonte transcendental da questão do ser. STMSC: §8
Análise preparatória dos fundamentos da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §8
O tema da analítica da PRESENÇA [DASEIN] O ente que temos a tarefa de analisar somos nós {CH: cada vez “eu”} mesmos. STMSC: §9
Como um ente deste ser {CH: mas este é historicamente ser-no-mundo}, a PRESENÇA [DASEIN] se entrega à responsabilidade de assumir seu próprio ser. STMSC: §9
Desta caracterização da PRESENÇA [DASEIN] resultam duas coisas: 1. STMSC: §9
Para a ontologia tradicional, existentia designa o mesmo que ser simplesmente dado, modo de ser que não pertence à essência do ente dotado do caráter de PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §9
Evita-se uma confusão usando a expressão interpretativa ser simplesmente dado para designar existentia e reservando-se existência como determinação ontológica exclusiva da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §9
A “essência” da PRESENÇA [DASEIN] está em sua existência. STMSC: §9
As características constitutivas da PRESENÇA [DASEIN] são sempre modos possíveis de ser e somente isso. STMSC: §9
Por isso, o termo “PRESENÇA [DASEIN]”, reservado para designá-lo, não exprime a sua quididade como mesa, casa, árvore, mas sim o ser {CH: o ser do “pre [das Da]”, “do”: genitivus objectivus}. STMSC: §9
Neste sentido, a PRESENÇA [DASEIN] nunca poderá ser apreendida ontologicamente como caso ou exemplar de um gênero de entes simplesmente dados. STMSC: §9
Dizendo-se a PRESENÇA [DASEIN], deve-se também pronunciar sempre o pronome pessoal, devido a seu caráter de ser sempre minha: “eu sou”, “tu és” {CH: isto é, ser sempre meu significa estar entregue à responsabilidade do próprio}. STMSC: §9
A PRESENÇA [DASEIN] se constitui pelo caráter de ser minha, segundo este ou aquele modo de ser. STMSC: §9
De alguma maneira, sempre já se decidiu de que modo a PRESENÇA [DASEIN] é sempre minha. STMSC: §9
A PRESENÇA [DASEIN] é sempre sua possibilidade. STMSC: §9
E porque a PRESENÇA [DASEIN] é sempre essencialmente sua possibilidade ela pode, em seu ser, isto é, sendo, “escolher-se”, ganhar-se ou perder-se ou ainda nunca ganhar-se ou só ganhar-se “aparentemente”. STMSC: §9
A PRESENÇA [DASEIN] só pode perder-se ou ainda não se ter ganho porque, segundo seu modo de ser, ela é uma possibilidade própria, ou seja, é chamada a apropriar-se de si mesma. STMSC: §9
Os dois modos de ser propriedade e impropriedade ambos os termos foram escolhidos em seu sentido rigorosamente literal – fundam-se em a PRESENÇA [DASEIN] determinar-se pelo caráter de ser sempre minha. STMSC: §9
A impropriedade da PRESENÇA [DASEIN], porém, não diz “ser” menos e nem tampouco um grau “inferior” de ser. STMSC: §9
Ao contrário, a impropriedade pode determinar toda a concreção da PRESENÇA [DASEIN] em suas ocupações, estímulos, interesses e prazeres. STMSC: §9
Os dois caracteres esboçados da PRESENÇA [DASEIN], o primado da “existência” frente à “essência” e o ser sempre minha, já indicam que uma análise deste ente se acha diante de um âmbito fenomenal próprio. STMSC: §9
A PRESENÇA [DASEIN] não tem, nem nunca pode ter o modo de ser dos entes simplesmente dados dentro do mundo. STMSC: §9
A PRESENÇA [DASEIN] se determina como ente sempre a partir de uma possibilidade que ela é e, de algum modo, isso também significa que ela se compreende em seu ser. STMSC: §9
Este é o sentido formal da constituição existencial da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §9
Isso porém não quer dizer construir a PRESENÇA [DASEIN] a partir de uma determinada ideia possível de existência. STMSC: §9
Ao contrário, no ponto de partida da análise, não se pode interpretar a PRESENÇA [DASEIN] pela diferença de um modo determinado de existir. STMSC: §9
Esta indiferença da cotidianidade da PRESENÇA [DASEIN] não é um nada negativo, mas um caráter fenomenal positivo deste ente. STMSC: §9
Denominamos esta indiferença cotidiana da PRESENÇA [DASEIN] de medianidade. STMSC: §9
Porque a cotidianidade mediana perfaz o que, em primeiro lugar, constitui o ôntico deste ente, sempre se saltou por cima dela e sempre se o fará nas explicações da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §9
e precisa responder: ego certe laboro hic et laboro in meipso: factus sum mihi terra dificultatis etsudoris nimii, isto não vale apenas para a opacidade ôntica e pré-ontológica da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §9
Não se deve, porém, tomar a cotidianidade mediana da PRESENÇA [DASEIN] como um simples “aspecto”. STMSC: §9
De certa forma, nele está igualmente em jogo o ser da PRESENÇA [DASEIN], com o qual ela se comporta e relaciona no modo da cotidianidade mediana, mesmo que seja apenas fugindo e se esquecendo dele. STMSC: §9
A explicação da PRESENÇA [DASEIN] em sua cotidianidade mediana não fornece apenas estruturas medianas, no sentido de uma indeterminação vaga. STMSC: §9
O que, do ponto de vista ôntico é, no modo da medianidade, pode ser apreendido, do ponto de vista ontológico, em estruturas pregnantes que não se distinguem, estruturalmente, das determinações ontológicas de um modo próprio de ser da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §9
Todas as explicações resultantes da analítica da PRESENÇA [DASEIN] são conquistadas a partir de sua estrutura existencial. STMSC: §9
Denominamos os caracteres ontológicos da PRESENÇA [DASEIN] de existenciais porque eles se determinam a partir da existencialidade. STMSC: §9
Estes devem ser nitidamente diferenciados das determinações ontológicas dos entes que não têm o modo de ser da PRESENÇA [DASEIN], os quais chamamos de categorias. STMSC: §9
Já se indicou, na introdução, que a analítica existencial da PRESENÇA [DASEIN] mobiliza igualmente uma tarefa, cuja urgência não é menor que a da própria questão do ser, a saber, a liberação do à priori, que se deve fazer visível, a fim de possibilitar a discussão filosófica da questão “o que é o homem”. STMSC: §9
A analítica existencial da PRESENÇA [DASEIN] está antes de toda psicologia, antropologia e, sobretudo, biologia. STMSC: §9
A delimitação frente a essas possíveis investigações da PRESENÇA [DASEIN] pode tornar ainda mais preciso o tema da analítica. STMSC: §9
A delimitação da analítica da PRESENÇA [DASEIN] face à antropologia, psicologia e biologia Depois de se ter delineado positivamente o tema de uma investigação, é sempre importante caracterizar negativamente seu propósito, embora discussões sobre o que não deve acontecer se tornem, muitas vezes, infrutíferas e estéreis. STMSC: §10
O que se deve mostrar é somente que os questionamentos e {CH: elas não visam em absoluto à PRESENÇA [DASEIN]} até hoje desenvolvidos a sobre a PRESENÇA [DASEIN] não alcançam o problema propriamente filosófico, apesar de todos os resultados objetivos alcançados. STMSC: §10
Uma das primeiras tarefas da analítica será, pois, mostrar que o princípio de um eu e sujeito, dados como ponto de partida, deturpa, de modo fundamental, o fenômeno da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §10
Por outro lado, na tendência corretamente compreendida de toda “filosofia da vida” séria e científica – em que a palavra vida diz algo como a botânica das plantas – subsiste implicitamente a tendência para uma compreensão do ser da PRESENÇA [DASEIN] {CH: não!}. STMSC: §10
Mesmo a interpretação fenomenológica da personalidade, em princípio mais radical e lúcida, não alcança a dimensão da questão do ser da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §10
O que, no entanto, constitui um obstáculo e desvia a questão fundamental do ser da PRESENÇA [DASEIN] é a orientação corrente pela antropologia cristã da Antiguidade. STMSC: §10
Na ordem de uma possível apreensão e interpretação, a biologia como “ciência da vida” funda-se, embora não exclusivamente, na ontologia da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §10
A vida é um modo próprio de ser, mas que, em sua essência, só se torna acessível na PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §10
A vida não é nem coisa simplesmente dada nem PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §10
A PRESENÇA [DASEIN], por sua vez, não poderá ser determinada ontologicamente, tomando-a como vida – (indeterminada do ponto de vista ontológico) à qual ainda se acrescenta uma outra coisa. STMSC: §10
A analítica existencial e a interpretação da PRESENÇA [DASEIN] primitiva. STMSC: §11
As dificuldades para se obter um “conceito natural de mundo” A interpretação da PRESENÇA [DASEIN] em sua cotidianidade não deve, porém, ser identificada com descrição de uma fase primitiva da PRESENÇA [DASEIN], cujo conhecimento pudesse ser transmitido empiricamente pela antropologia. STMSC: §11
Cotidianidade é, antes, um modo de ser da PRESENÇA [DASEIN], justamente e, sobretudo quando a PRESENÇA [DASEIN] se move numa cultura altamente desenvolvida e diferenciada. STMSC: §11
Além disso, também a PRESENÇA [DASEIN] primitiva possui suas possibilidades não cotidianas de ser e a sua cotidianidade específica. STMSC: §11
Orientar a análise da PRESENÇA [DASEIN] pela “vida dos povos primitivos” pode apresentar um significado metodológico positivo na medida em que, muitas vezes, os “fenômenos primitivos” são menos complexos e menos encobertos por uma interpretação própria, já muito abrangente, da respectiva PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §11
Com frequência, a PRESENÇA [DASEIN] primitiva fala mais diretamente a partir de uma imersão originária nos próprios “fenômenos” (tomados em sentido pré-fenomenológico). STMSC: §11
Já na primeira coleta do material, em sua avaliação e elaboração, a etnologia se move dentro de determinadas concepções prévias e interpretações da PRESENÇA [DASEIN] humana em geral. STMSC: §11
A etnologia já pressupõe em si mesma uma analítica suficiente da PRESENÇA [DASEIN] que lhe serve de guia nas pesquisas. STMSC: §11
Por mais fácil que seja a delimitação formal da problemática ontológica face às pesquisas ônticas, a execução e, sobretudo, o ponto de partida de uma analítica existencial da PRESENÇA [DASEIN] não está desprovida de dificuldades. STMSC: §11
A abundância de conhecimentos disponíveis das culturas e formas de PRESENÇA [DASEIN] mais diversas e mais distantes parece favorecer o desenvolvimento frutífero dessa tarefa. STMSC: §11
E, no caso de “mundo” já ser em si mesmo um constitutivo da PRESENÇA [DASEIN], a elaboração conceitual do fenômeno do mundo requer uma visão penetrante das estruturas básicas da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §11
A PRESENÇA [DASEIN] é um sendo, que em seu ser relaciona-se com esse ser numa compreensão. STMSC: §12
A PRESENÇA [DASEIN] existe. STMSC: §12
A PRESENÇA [DASEIN] é ademais um sendo, que sempre eu mesmo sou. STMSC: §12
Ser sempre minha pertence à existência da PRESENÇA [DASEIN] como condição de possibilidade de propriedade e impropriedade. STMSC: §12
A PRESENÇA [DASEIN] existe sempre num desses modos, mesmo quando existe numa indiferença modal para com esses modos. STMSC: §12
Estas determinações do ser da PRESENÇA [DASEIN], todavia, devem agora ser vistas e compreendidas a priori, com base na constituição de ser que designamos de ser-no-mundo. STMSC: §12
O ponto de partida adequado para a analítica da PRESENÇA [DASEIN] consiste em se interpretar esta constituição. STMSC: §12
Numa demonstração fenomenal devemos determinar quem é e está no modo da cotidianidade mediana da PRESENÇA [DASEIN] (cf. STMSC: §12
O ser-no-mundo é, sem dúvida, uma constituição necessária e a priori da PRESENÇA [DASEIN], mas de forma nenhuma suficiente para determinar por completo o seu ser. STMSC: §12
Tais caracteres pertencem ao ente não dotado do modo de ser da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §12
O ser-em, ao contrário, significa uma constituição de ser da PRESENÇA [DASEIN] e é um existencial. STMSC: §12
O ser-em é, pois, a expressão formal e existencial do ser da PRESENÇA [DASEIN] {CH: mas não do ser em geral e nem mesmo do próprio ser – pura e simplesmente} que possui a constituição essencial de ser-no-mundo. STMSC: §12
Nestas análises, trata-se de ver uma estrutura originária do ser da PRESENÇA [DASEIN], cujo conteúdo fenomenal deve ser articulado pelos conceitos de ser. STMSC: §12
Não há nenhuma espécie de “justaposição” de um ente chamado “PRESENÇA [DASEIN]” a um outro ente chamado “mundo”. STMSC: §12
Um ente só poderá tocar um outro ente simplesmente dado dentro do mundo se, por natureza, tiver o modo do ser-em, se, com sua PRESENÇA [DASEIN], já se lhe houver sido descoberto um mundo. STMSC: §12
Não pode faltar o acréscimo: “e, além disso, são em si mesmos destituídos de mundo”, porque também o ente que não é destituído de mundo, por exemplo, a própria PRESENÇA [DASEIN], se dá simplesmente “no” mundo ou, mais precisamente, também pode ser apreendido, com certa razão e dentro de certos limites, como algo simplesmente dado. STMSC: §12
Mas não se deve confundir essa possibilidade de apreender a “PRESENÇA [DASEIN]” como um dado e somente como simples dado com um modo de “ser simplesmente dado”, próprio da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §12
Pois este ser simplesmente dado não é acessível quando se desconsideram as estruturas específicas da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §12
A PRESENÇA [DASEIN] compreende o seu ser mais próprio no sentido de um certo “ser simplesmente dado fatual”. STMSC: §12
Na verdade, a “fatualidade” do fato da própria PRESENÇA [DASEIN] é, em seu ser, fundamentalmente diferente da ocorrência fatual de uma espécie qualquer de pedras. STMSC: §12
Chamamos de facticidade o caráter de fatualidade do fato da PRESENÇA [DASEIN] em que, como tal, cada PRESENÇA [DASEIN] sempre é. STMSC: §12
À luz da elaboração das constituições existenciais básicas da PRESENÇA [DASEIN], a estrutura complexa desta determinação ontológica só poderá ser apreendida em si mesma como problema. STMSC: §12
Ao delimitarmos dessa maneira o ser-em, a PRESENÇA [DASEIN] não se vê despojada de toda e qualquer espécie de “espacialidade”. STMSC: §12
Ao contrário, a PRESENÇA [DASEIN] tem seu próprio “ser no espaço”, o qual, no entanto, só é possível com base e fundamento no ser-no-mundo em geral. STMSC: §12
A compreensão de ser-no-mundo como estrutura essencial da PRESENÇA [DASEIN] é que possibilita a visão penetrante da espacialidade existencial da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §12
Com a facticidade, o ser-no-mundo da PRESENÇA [DASEIN] já se dispersou ou até mesmo se fragmentou em determinados modos de ser-em. STMSC: §12
Esta escolha não foi feita porque a PRESENÇA [DASEIN] é, em primeiro lugar e em larga escala, “prática” e econômica, mas porque o ser da PRESENÇA [DASEIN] deve tornar-se visível em si mesmo como cura. STMSC: §12
Esta expressão nada tem a ver com as “penas”, “tristezas” ou “preocupações” da vida as quais, do ponto de vista ôntico, podem ser encontradas em qualquer PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §12
Tudo isso, assim como a “jovialidade” e “despreocupação” só são onticamente possíveis porque, entendida ontologicamente, a PRESENÇA [DASEIN] é cura. STMSC: §12
Como ser-no-mundo pertence ontologicamente à PRESENÇA [DASEIN], o seu ser para com o mundo é, essencialmente, ocupação {CH: aqui ser-homem e PRESENÇA [DASEIN] se equivalem}. STMSC: §12
De acordo com o que foi dito, o ser-no-mundo não é uma “propriedade” que a PRESENÇA [DASEIN] às vezes apresenta e outras não, como se pudesse ser igualmente com ela ou sem ela. STMSC: §12
A PRESENÇA [DASEIN] nunca é “numa primeira aproximação” um ente, por assim dizer, livre de ser-em que, algumas vezes, tem gana de assumir uma “relação” com o mundo. STMSC: §12
Esse assumir relações com o mundo só é possível porque a PRESENÇA [DASEIN], sendo-no-mundo, é como é. STMSC: §12
Tal constituição de ser não surge porque, além dos entes dotados do caráter da PRESENÇA [DASEIN], ainda se dão outros entes, os simplesmente dados, que com ela se deparam. STMSC: §12
Esses outros entes só podem deparar-se “com” a PRESENÇA [DASEIN] quando conseguem mostrar-se, por si mesmos, dentro de um mundo. STMSC: §12
Sendo essencialmente desse modo, a PRESENÇA [DASEIN] pode, então, descobrir explicitamente o ente que lhe vem ao encontro no mundo circundante, saber algo a seu respeito, dele dispor, ter “mundo”. STMSC: §12
Para resolvê-lo é imprescindível determinar, primeiro, de maneira suficiente e ontológica, o ser da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §12
Em si mesma essa estrutura só poderá ser filosoficamente explicitada como um a priori do objeto temático da biologia, depois de ter sido compreendida como estrutura da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §12
Na analítica da PRESENÇA [DASEIN], essa estrutura recebe uma interpretação fundamental. STMSC: §12
A demonstração fenomenológica do ser-no-mundo tem o caráter de uma recusa de encobrimentos e distorções porque este fenômeno já é sempre, de certo modo, “visto” em toda PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §12
E isto ocorre porque ele participa da constituição fundamental da PRESENÇA [DASEIN] na medida em que, com o seu ser, já se abriu à sua própria compreensão de ser. STMSC: §12
Todavia, a esse “ver de certo modo e na maioria das vezes compreender mal” também se funda na constituição de ser da PRESENÇA [DASEIN] ela mesma, segundo a qual a PRESENÇA [DASEIN], numa primeira aproximação, compreende ontologicamente a si mesma (e, portanto, também o seu ser-no-mundo) a partir dos entes e de seu ser, que ela mesma não é, mas que lhe vêm ao encontro {CH: uma significação retroativa} “dentro” de seu mundo. STMSC: §12
Na própria PRESENÇA [DASEIN] e para ela, esta constituição de ser é, desde sempre e de alguma maneira, reconhecida. STMSC: §12
Agora só se conhece a constituição da PRESENÇA [DASEIN] e, na verdade, como algo evidente por si mesmo, na pregnância de uma interpretação inadequada. STMSC: §12
O conhecimento do mundo Se ser-no-mundo é uma constituição fundamental da PRESENÇA [DASEIN] em que ela se move não apenas em geral mas, sobretudo, no modo da cotidianidade, então a PRESENÇA [DASEIN] já deve ter sido sempre experimentada onticamente. STMSC: §13
Permanecer totalmente velada seria incompreensível, principalmente porque a PRESENÇA [DASEIN] dispõe de uma compreensão ontológica de si mesma, por mais indeterminada que seja. STMSC: §13
Sujeito e objeto não coincidem, porém a com PRESENÇA [DASEIN] e mundo {CH: na verdade não! STMSC: §13
Partindo dessa suposição, não se vê o que já está implicitamente dito na tematização mais provisória do fenômeno do conhecimento, a saber, que conhecer é um modo de ser da PRESENÇA [DASEIN] enquanto ser-no-mundo, isto é, que o conhecer tem seu fundamento ôntico nesta constituição de ser. STMSC: §13
Se perguntarmos, agora, o que se mostra nos dados fenomenais do próprio conhecimento, deve-se admitir que o conhecer em si mesmo se funda previamente num já-ser-junto-ao-mundo, no qual o ser da PRESENÇA [DASEIN] se constitui de modo essencial. STMSC: §13
e apreender, a PRESENÇA [DASEIN] não sai de uma esfera interna em que antes estava encapsulada. STMSC: §13
Em seu modo de ser originária, a PRESENÇA [DASEIN] já está sempre “fora”, junto a um ente que lhe vem ao encontro no mundo já descoberto. STMSC: §13
Nesse “estar fora”, junto ao objeto, a PRESENÇA [DASEIN] está “dentro”, num sentido que deve ser entendido corretamente, ou seja, é ela mesma que, como ser-no-mundo, conhece. STMSC: §13
Quando, em sua atividade de conhecer, a PRESENÇA [DASEIN] percebe, conserva e mantém, ela, como PRESENÇA [DASEIN], permanece fora. STMSC: §13
Esse contexto de fundamentação dos modos de ser-no-mundo constitutivos do conhecimento de mundo evidencia que, ao conhecer, a PRESENÇA [DASEIN] adquire um novo estado de ser, no tocante ao mundo já sempre descoberto. STMSC: §13
Conhecer, ao contrário, é um modo da PRESENÇA [DASEIN] fundado no ser-no-mundo. STMSC: §13
Não deveríamos, então, ater-nos primeiro aos entes em que, numa primeira aproximação e na maioria das vezes, a PRESENÇA [DASEIN] se detém, isto é, às coisas “dotadas de valor”? STMSC: §14
Será o “mundo” um caráter do ser da PRESENÇA [DASEIN]? STMSC: §14
Toda PRESENÇA [DASEIN] não terá sempre seu mundo? STMSC: §14
Este, nós o conhecemos como uma determinação existencial da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §14
Quando investigamos ontologicamente o “mundo”, não abandonamos, de forma nenhuma, o campo temático da analítica da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §14
Do ponto de vista ontológico, “mundo” não é determinação de um ente que a PRESENÇA [DASEIN] em sua essência não é. “ STMSC: §14
Mundo” é um caráter da própria PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §14
Nesse caso, é o contexto “em que” uma PRESENÇA [DASEIN] fática “vive” como PRESENÇA [DASEIN], e não o ente que a PRESENÇA [DASEIN] em sua essência não é, mas que pode vir ao seu encontro dentro do mundo. STMSC: §14
Terminologicamente, o adjetivo derivado mundano indica, portanto, um modo de ser da PRESENÇA [DASEIN] e nunca o modo de ser de um ente simplesmente dado “no” mundo. STMSC: §14
O ente simplesmente dado “no” mundo, nós o chamaremos de pertencente ao mundo {CH: justamente a PRESENÇA [DASEIN] é obediente ao mundo} ou intramundano. STMSC: §14
Um passar de olhos pela ontologia tradicional mostrará que, junto com a ausência da constituição da PRESENÇA [DASEIN] como ser-no-mundo, também se salta por cima do fenômeno da mundanidade. STMSC: §14
A PRESENÇA [DASEIN] só pode descobrir o ente como natureza num determinado modo de seu ser-no-mundo. STMSC: §14
Do mesmo modo, o fenômeno “natureza”, no sentido do conceito romântico de natureza, só poderá ser apreendido ontologicamente a partir do conceito de mundo, ou seja, através da analítica da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §14
Por outro lado, uma interpretação da mundanidade da PRESENÇA [DASEIN], das possibilidades e modos de sua mundanização, haverá de mostrar por que, em seu modo de conhecer o mundo, a PRESENÇA [DASEIN] salta por cima do fenômeno da mundanidade, tanto do ponto de vista ôntico como ontológico. STMSC: §14
O ser-no-mundo e com isso também o mundo deve tornar-se tema da analítica no horizonte da cotidianidade mediana enquanto modo de ser mais próximo da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §14
O mundo mais próximo da PRESENÇA [DASEIN] cotidiana é o mundo circundante. STMSC: §14
Somente a partir daí poder-se-á ver o fenômeno da espacialidade da PRESENÇA [DASEIN], esboçado no §12. STMSC: §14
É em Descartes que se mostra a tendência mais extremada para uma ontologia do “mundo” desta espécie, ontologia edificada em contraposição à res cogitans que, porém, não coincide, nem do ponto de vista ôntico, nem do ontológico, com a PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §14
O circundante do mundo circundante e a “espacialidade” da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §14
Enquanto investigação do ser, ela realiza, porém, de maneira explícita e autônoma, a compreensão de ser que, desde sempre, pertence à PRESENÇA [DASEIN] e se “aviva” em todo modo de lidar com o ente. STMSC: §15
A PRESENÇA [DASEIN] cotidiana já está sempre nesse modo quando, por exemplo, ao abrir a porta, faço uso do trinco. STMSC: §15
Uma plataforma coberta leva em conta as intempéries; as instalações de iluminação pública levam em conta a escuridão, ou seja, a mudança específica de PRESENÇA [DASEIN] e ausência da luz do dia, a “posição do sol”. STMSC: §15
Se a PRESENÇA [DASEIN] se constitui onticamente pelo ser-no-mundo e se também pertence essencialmente ao seu ser uma compreensão do ser de si mesmo, por mais indeterminada que seja, não haveria, pois, uma compreensão de mundo, uma compreensão pré-ontológica, que pudesse dispensar uma visão ontológica explícita e assim o fizesse? STMSC: §16
A própria PRESENÇA [DASEIN], no âmbito de seu empenho ocupacional com o instrumento manual, não possui uma possibilidade ontológica em que, de certo modo, a mundanidade se lhe evidencia junto com o ente intramundano da ocupação? STMSC: §16
Caso essas possibilidades ontológicas da PRESENÇA [DASEIN] se possam apontar no modo de lidar da ocupação, abre-se então um caminho para a investigação e aproximação do fenômeno assim evidenciado e, ao mesmo tempo, pode-se tentar “colocá-lo”, por assim dizer, e interrogá-lo no mostrar-se de suas estruturas. STMSC: §16
O mundo é, portanto, algo “em que” (worin) a PRESENÇA [DASEIN] enquanto ente já sempre esteve, para o qual (worauf) a PRESENÇA [DASEIN] pode apenas retomar em qualquer advento de algum modo explícito. STMSC: §16
Nessa familiaridade, a PRESENÇA [DASEIN] pode perder-se e ser absorvida pelo ente intramundano que vem ao seu encontro. STMSC: §16
O que é isso com que a PRESENÇA [DASEIN] se familiariza e por que a determinação mundana dos entes intramundanos pode aparecer? STMSC: §16
O desviar-se, enquanto tomada de uma direção, pertence essencialmente ao ser-no-mundo da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §17
Poder-se-ia ficar tentado a ilustrar o papel primordial do sinal na ocupação cotidiana para a própria compreensão do mundo com o uso abundante de “sinais”, característico da PRESENÇA [DASEIN] primitiva, ou seja, com o fetiche e a magia. STMSC: §17
Se, no entanto, uma compreensão de ser é constitutiva da PRESENÇA [DASEIN] primitiva e do mundo primitivo em geral, então torna-se ainda mais urgente a elaboração da ideia “formal” de mundanidade, ou seja, de um fenômeno que é de tal maneira passível de modificações que todos os enunciados ontológicos, seja no contexto fenomenal prefixado do que ainda não é isso ou do que já não é mais isso, recebam um sentido fenomenal positivo a partir do que não é. STMSC: §17
Com o para quê (Wozu) da serventia pode-se dar, novamente, uma conjuntura própria; por exemplo, junto com esse manual que chamamos, por isso mesmo, de martelo, age a conjuntura de pregar, junto com o pregar dá-se a proteção contra as intempéries; esta “é” em virtude do abrigo da PRESENÇA [DASEIN], ou seja, está em virtude de uma possibilidade de seu ser. STMSC: §18
Em virtude de”, porém, sempre diz respeito ao ser da PRESENÇA [DASEIN], uma vez que, sendo, está essencialmente em jogo seu próprio ser. STMSC: §18
Nesse primeiro momento, não se deve aprofundar o contexto indicado que conduz da estrutura da conjuntura para o ser da PRESENÇA [DASEIN] enquanto função única e própria. STMSC: §18
Esse deixar e fazer em conjunto “a priori” é a condição de possibilidade para o manual vir ao encontro de tal maneira que, no modo de lidar ôntico com o encontro dos entes, a PRESENÇA [DASEIN] possa deixar e fazer em conjunto, em sentido ôntico. STMSC: §18
A doutrina kantiana do esquematismo)} a priori, que caracteriza o modo de ser da própria PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §18
Se, doravante, reservamos a palavra descoberta como termo de uma possibilidade ontológica de todos os entes não dotados do caráter da PRESENÇA [DASEIN], então essa perspectiva não é, em sua essência, passível de descoberta. STMSC: §18
Ao ser da PRESENÇA [DASEIN] pertence uma compreensão de ser. STMSC: §18
Se convém essencialmente à PRESENÇA [DASEIN] o modo de ser-no-mundo, é que compreender ser-no-mundo pertence ao teor essencial de sua compreensão de ser. STMSC: §18
A abertura prévia da perspectiva, em que acontece a liberação dos entes intramundanos que vêm ao encontro, nada mais é do que o compreender de mundo com que a PRESENÇA [DASEIN], enquanto ente, já está sempre em relação. STMSC: §18
Mas em que a PRESENÇA [DASEIN] se compreende pré-ontologicamente como ser-no-mundo? STMSC: §18
Ao compreender o contexto de remissões supramencionado, a PRESENÇA [DASEIN] já se referiu a um ser para, a partir de um poder ser explícito ou implícito, próprio ou impróprio, em virtude do qual ela mesma é. STMSC: §18
A partir de um em virtude de, a PRESENÇA [DASEIN] sempre se refere ao estar com de uma conjuntura, ou seja, já permite sempre, em sendo, que o ente venha ao encontro como manual. STMSC: §18
A perspectiva dentro da qual se deixa e se faz o encontro prévio dos entes constitui o contexto em que a PRESENÇA [DASEIN] se compreende previamente segundo o modo de referência. STMSC: §18
A estrutura da perspectiva em que a PRESENÇA [DASEIN] se refere constitui a mundanidade do mundo. STMSC: §18
A PRESENÇA [DASEIN] está originariamente familiarizada com o (contexto) em que, desse modo, ela sempre se compreende. STMSC: §18
Na familiaridade com o mundo, constitutiva da PRESENÇA [DASEIN] e que também constitui a compreensão de ser da PRESENÇA [DASEIN], funda-se a possibilidade de uma interpretação ontológico-existencial explícita dessas remissões. STMSC: §18
Tal possibilidade pode ser apreendida expressamente quando a própria PRESENÇA [DASEIN] assume a tarefa de interpretar originariamente o seu ser e suas possibilidades ou até o sentido de ser em geral. STMSC: §18
Para a consideração] posterior é preciso esclarecer primeiro, mais nitidamente, como se deve apreender ontologicamente o contexto referencial da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §18
Na familiaridade com essas remissões, a PRESENÇA [DASEIN] “significa” para si mesma, ela oferece o seu ser e seu poder-ser a si mesma para uma compreensão originária, no tocante ao ser-no-mundo. STMSC: §18
Elas são o que são enquanto ação de signi-ficar (Be-deuten), onde a própria PRESENÇA [DASEIN] se dá a compreender previamente a si mesma no seu ser-no-mundo. STMSC: §18
A significância é o que constitui a estrutura de mundo em que a PRESENÇA [DASEIN] {CH: a PRESENÇA [DASEIN] em que o homem vigora} já é sempre como é. STMSC: §18
Em sua familiaridade com a significância, a PRESENÇA [DASEIN] é a condição ôntica de possibilidade para se poder descobrir os entes que num mundo vêm ao encontro no modo de ser da conjuntura (manualidade) e que se podem anunciar em seu em-si. STMSC: §18
A PRESENÇA [DASEIN] como tal é sempre esta PRESENÇA [DASEIN] com a qual já se descobre essencialmente um contexto de manuais. STMSC: §18
Sendo, a PRESENÇA [DASEIN] já se {CH: mas não como uma ação e feito, dotados de eu, de um sujeito. STMSC: §18
Mas, PRESENÇA [DASEIN] e ser.} STMSC: §18
Todavia, a própria significância, com que a PRESENÇA [DASEIN] sempre está familiarizada, abriga em si a condição ontológica da possibilidade de a PRESENÇA [DASEIN], em seus movimentos de compreender e interpretar, poder abrir “significados”, que, por sua vez, fundam {CH: não verdadeiro. STMSC: §18
A abertura da significância como constituição existencial da PRESENÇA [DASEIN], o ser-no-mundo, é a condição ôntica da possibilidade de se descobrir uma totalidade conjuntural. STMSC: §18
Este último é uma determinação existencial do ser-no-mundo, ou seja, da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §18
Os outros dois conceitos de ser são categorias e abrangem entes que não possuem o modo de ser da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §18
Como, por um lado, a extensão é um dos constitutivos da espacialidade e, segundo Descartes, chega até a ser idêntica a ela, e como, por outro lado, a espacialidade constitui, em certo sentido, o mundo, a discussão da ontologia cartesiana de “mundo” propicia igualmente um ponto de apoio negativo para a explicação positiva da espacialidade do mundo circundante e da própria PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §18
Na discussão crítica do ponto de partida cartesiano teremos, pois, de perguntar: Que modo de ser da PRESENÇA [DASEIN] é fixado como a via de acesso adequada ao que, enquanto extensio, Descartes identifica com o ser do “mundo”? STMSC: §21
Dureza e resistência não se mostram de forma alguma quando não se dá um ente dotado do modo de ser da PRESENÇA [DASEIN] ou, ao menos, de um ser vivo. STMSC: §21
A ideia de ser como constância do ser simplesmente dado motiva não apenas uma determinação extremada do ser dos entes intramundanos e de sua identificação com o mundo em geral, como também impede que se perceba, de maneira ontologicamente adequada, os comportamentos da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §21
Descartes, no entanto, apreende o ser da “PRESENÇA [DASEIN]”, a cuja constituição fundamental pertence o ser-no-mundo, da mesma maneira que o ser da res extensa, isto é, como substância. STMSC: §21
As discussões anteriores visaram mostrar que a orientação fundamental pela tradição, desprovida ontologicamente de qualquer crítica positiva, impossibilitou que ele liberasse uma problemática ontológica originária da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §21
Já indicamos (§14) que saltar por cima do mundo e daquele ente que imediatamente vem ao encontro não é um acaso nem um lapso que pudesse ser posteriormente reparado, mas que isso se funda num modo de ser essencial da própria PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §21
A crítica aqui empreendida só pode alcançar a sua legitimidade filosófica no momento em que a analítica da PRESENÇA [DASEIN] tiver tornado transparentes, no âmbito desta problemática, as suas estruturas mais importantes. STMSC: §21
As considerações a respeito de Descartes buscaram mostrar que o ponto de partida das coisas do mundo, aparentemente evidente, bem como a orientação pelo conhecimento pretensamente mais rigoroso desse ente não asseguram o solo sobre o qual se poderão encontrar fenomenalmente as constituições ontológicas imediatas do mundo, da PRESENÇA [DASEIN] e dos entes intramundanos. STMSC: §21
O ponto de partida da extensão como determinação fundamental do “mundo” possui a sua razão fenomenal, embora nem a espacialidade do mundo, nem a espacialidade primeiramente descoberta dos entes que vêm ao encontro no mundo circundante e, sobretudo, a espacialidade da própria PRESENÇA [DASEIN] possam por ela ser compreendidas ontologicamente. STMSC: §21
§12), a PRESENÇA [DASEIN] teve de ser delimitada frente a um modo de ser no espaço, que denominamos interioridade. STMSC: §21
A recusa de uma tal interioridade da PRESENÇA [DASEIN] num continente espacial não significa, contudo, excluir em princípio toda espacialidade da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §21
Trata-se apenas de deixar livre o caminho para se perceber a espacialidade essencial da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §21
A investigação da espacialidade da PRESENÇA [DASEIN] e da determinação espacial do mundo parte de uma análise do manual intramundano no espaço. STMSC: §21
A espacialidade da PRESENÇA [DASEIN] e o espaço (§24). STMSC: §21
Igrejas e sepulturas, por exemplo, são situadas segundo o nascente e o poente, regiões da vida e da morte, a partir das quais a própria PRESENÇA [DASEIN] se determina no tocante às suas possibilidades mais próprias de ser-no-mundo. STMSC: §22
A ocupação da PRESENÇA [DASEIN] que, sendo, está em jogo seu próprio ser, descobre previamente as regiões em que, cada vez, está em jogo uma conjuntura decisiva. STMSC: §22
Do ponto de vista ôntico, a possibilidade de encontro com um manual em seu espaço circundante só é possível porque a própria PRESENÇA [DASEIN] é “espacial”, no tocante a seu ser-no-mundo. STMSC: §22
A espacialidade do ser-no-mundo Ao atribuirmos espacialidade à PRESENÇA [DASEIN], temos evidentemente de conceber este “ser-no-espaço” a partir de seu modo de ser. STMSC: §23
Em sua essência, a espacialidade da PRESENÇA [DASEIN] não é um ser simplesmente dado e por isso não pode significar ocorrer em alguma posição do “espaço cósmico” e nem estar à mão em um lugar. STMSC: §23
A PRESENÇA [DASEIN], no entanto, está e é “no” mundo, no sentido de lidar familiarmente na ocupação com os entes que vêm ao encontro dentro do mundo. STMSC: §23
Enquanto modo de ser da PRESENÇA [DASEIN] no tocante a seu ser-no-mundo, o distanciamento não é por nós entendido como distância (proximidade) ou mesmo como intervalo. STMSC: §23
Indica uma constituição de ser da PRESENÇA [DASEIN] em virtude da qual o distanciar de alguma coisa, no sentido de afastar, é apenas um modo determinado e fático. STMSC: §23
Em sua essência, a PRESENÇA [DASEIN] é em dis-tanciando. STMSC: §23
Assim como o intervalo, a distância é uma determinação categorial dos entes destituídos do modo de ser da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §23
Somente ao se descobrir para a PRESENÇA [DASEIN] a distância dos entes é que no próprio ente intramundano tornam-se acessíveis “distanciamentos” e intervalos com referência a outros entes. STMSC: §23
Na PRESENÇA [DASEIN] reside uma tendência essencial de proximidade {CH: em que medida e por quê? STMSC: §23
Assim, por exemplo, com a “radiodifusão”, a PRESENÇA [DASEIN] cumpre hoje o dis-tanciamento do “mundo” através de uma ampliação e destruição do mundo circundante cotidiano, cujo sentido para a PRESENÇA [DASEIN] ainda não se pode totalmente avaliar. STMSC: §23
Embora não necessariamente, subsiste no dis-tanciamento uma avaliação explícita da distância em que um manual se acha com relação à PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §23
A avaliação da distância sempre se faz relativamente a dis-tanciamentos em que a PRESENÇA [DASEIN] cotidiana se mantém. STMSC: §23
Por mais imprecisos e oscilantes que sejam os seus cálculos, tais avaliações possuem uma determinação própria e compreensível para todos no modo de ser cotidiano da PRESENÇA [DASEIN]. STMSC: §23
O manual do mundo circundante, na verdade, não se oferece como algo simplesmente dado para um observador eterno, destituído de PRESENÇA [DASEIN], mas vem ao encontro na cotidianidade da PRESENÇA [DASEIN], empenhada em ocupações dentro da circunvisão. STMSC: §23
Em seus caminhos, a PRESENÇA [DASEIN] não atravessa um trecho do espaço como uma coisa corpórea simplesmente dada. STMSC: §23
O dis-tanciamento guiado por uma circunvisão na cotidianidade da PRESENÇA [DASEIN] descobre o ser-em-sido “mundo verdadeiro”, isto é, de um ente junto ao qual a PRESENÇA [DASEIN], existindo, já sempre está. STMSC: §23
Porque a PRESENÇA [DASEIN] é essencialmente espacial, segundo os modos do dis-tanciamento, o lidar com as coisas sempre se mantém num “mundo circundante”, cada vez determinado pela distância de um certo espaço de jogo. STMSC: §23
Ver e ouvir são sentidos da distância, não devido a seu alcance, mas porque, distanciando-se, a PRESENÇA [DASEIN] neles se mantém de forma predominante. STMSC: §23
Quando, em suas ocupações, a PRESENÇA [DASEIN] aproxima de si alguma coisa, isto não